Vení a dormir conmigo;
no haremos el amor, el amor nos hará.
O Homem Medíocre
sexta-feira, 8 de junho de 2012
terça-feira, 15 de maio de 2012
segunda-feira, 30 de abril de 2012
Isto é um homem (de João J. B. Ventura)
Contrariando o pedido que lhe fora endereçado por um grupo pró-palestiano para não ir a Israel receber o Jerusalem Prize, o escritor japonês Haruki Murakami decidiu ir porque queria ver «com os seus próprios olhos». E foi e viu um muro alto e grande serpenteando na paisagem bíblica, dividindo, espartilhando ruas e estradas, quintais, hortas, vizinhanças, incendiando ódios na «terra prometida». E, então, disse que «se há um muro alto e grande e um ovo que se parte contra ele, não interessa o quão certo está o muro ou quão errado está o ovo, eu ficarei do lado do ovo. Porquê? Porque cada um de nós é um ovo, uma alma única, encerrada num ovo frágil. Cada um de nós confronta-se com um grande muro. O grande muro é o sistema. (…) Somos todos seres humanos, indivíduos, ovos frágeis».
Os palestinianos, menos que isso, diz-me Fuad, um amigo palestiniano que conheci um dia em Aman: «Em Israel, os palestinianos agora são vistos como menos que humanos». Almas quebradas contra um muro «demasiado grande, demasiado escuro, demasiado frio», erguido por israelitas com idade para se lembrarem do que significou na história enlouquecida do século XX a palavra «undermenchen». Foi esta expressão – menos que humano - que antecipou os campos de extermínio nazis, a chave que abriu as câmaras de gás para milhões de judeus e que, agora, estes, que mais do que qualquer outro povo a deviam calar, pronunciam, indiferentes ao sofrimento, à dor que infligem aos seus vizinhos.
A muralha de ódio que vai rasgando a paisagem bíblica da Palestina, contra a qual Murakami viu partirem-se os ovos frágeis dos palestinianos, é justificada por uma retórica de auto-defesa israelita; a mesma retórica que justifica os bombardeamentos indiscriminados de populações indefesas do outro lado do muro. Ou será que os israelitas acreditam que ali, todos, mulheres e crianças inclusive, se encontram armados? É que se assim não for, então, já só os pensam como menos que humanos. E é por aí, pela insensibilidade, que começa o extermínio. Primeiro, «um muro demasiado grande, demasiado escuro, demasiado frio». E depois, no lado de lá do muro, uma paisagem de ruínas sem fim, paredes calcinadas, sedimentos de morte e dor espalhados sobre aquele pedaço de deserto abandonado por Deus.
Por isso, como Murakami, esquivo-me às codificações racionais de uma guerra assimétrica e envolvo-me emocionalmente no sofrimento palestiniano. Por isso, esquivo-me ao juízo sobre se o que está certo ou errado é o muro ou os ovos que se quebram contra ele. É que, conhecendo Fuad e escutando as suas palavras, umas vezes gritadas outras vezes apenas balbuciadas, só poderei dizer, evocando Primo Levi, também ele «uma alma única, encerrada num ovo frágil», isto é um homem.
sexta-feira, 24 de junho de 2011
Um Filme
"Eu não tento lembrar as coisas que acontecem nos livros.
Tudo que peço de um livro é que me dê energia e coragem para dizer a mim mesmo
que há vida para além da que conheço, para me lembrar de que é necessário agir."
Leolo - Jean-Claude Lauson
Tudo que peço de um livro é que me dê energia e coragem para dizer a mim mesmo
que há vida para além da que conheço, para me lembrar de que é necessário agir."
Leolo - Jean-Claude Lauson
quinta-feira, 23 de junho de 2011
quarta-feira, 22 de junho de 2011
Não Basta Ser Bom...
"O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim
por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer"
Albert Einstein
por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer"
Albert Einstein
Elogio do Aprendiz
Aprenda o mais simples! Pra aqueles
Cujo hora chegou
Nunca é tarde demais!
Aprenda o ABC; não basta, mas
Aprenda! Não desanime!
Começa! É preciso saber tudo!
Você tem de assumir o comando!
Aprenda, homem do asilo!
Aprenda, homem na prisão!
Aprenda, mulher na cozinha!
Aprenda, ancião!
Você tem que assumir o comando!
Frequente a escola, você que não tem casa!
Adquira conhecimento, você que sente frio!
Você que tem fome, agarra o livro: é uma arma.
Você tem que assumir o comando.
Não se envergonhe de perguntar, camarada!
Não se deixe convencer
Veja com seus olhos!
O que não sabe por conta própria
Não sabe.
Verifique a conta
É você que vai pagar.
Põe o dedo sobre cada item
Pergunte: O que é isso?
Você tem que assumir o comando.
Bertolt Brecht
Cujo hora chegou
Nunca é tarde demais!
Aprenda o ABC; não basta, mas
Aprenda! Não desanime!
Começa! É preciso saber tudo!
Você tem de assumir o comando!
Aprenda, homem do asilo!
Aprenda, homem na prisão!
Aprenda, mulher na cozinha!
Aprenda, ancião!
Você tem que assumir o comando!
Frequente a escola, você que não tem casa!
Adquira conhecimento, você que sente frio!
Você que tem fome, agarra o livro: é uma arma.
Você tem que assumir o comando.
Não se envergonhe de perguntar, camarada!
Não se deixe convencer
Veja com seus olhos!
O que não sabe por conta própria
Não sabe.
Verifique a conta
É você que vai pagar.
Põe o dedo sobre cada item
Pergunte: O que é isso?
Você tem que assumir o comando.
Bertolt Brecht
segunda-feira, 20 de junho de 2011
Pierre-Joseph Proudhon
"Quem quer que seja que ponha as mãos sobre mim, para me governar, é um tirano.
Eu o declaro meu inimigo".
Eu o declaro meu inimigo".
domingo, 19 de junho de 2011
gratia Domini nostri Iesu Christi cum omnibus
Caminho pela avenida Bento Gonçalves, em Porto Alegre.
A certa altura uma academia de ginástica e uma igreja.
Lado a lado.
Não posso deixar de perceber a ironia .
Dois comércios.
Duas catedrais.
Numa você pode comprar o corpo perfeito e noutra vende-se, simplesmente, o próprio Deus.
E me pergunto: se Jesus se encontrasse em frente aos dois templos, em qual deles
entraria?
A pergunta é relevante já que se trata de duas das maiores religiões de nosso tempo,
perdendo em número de fiéis apenas para o Consumo - nosso deus último - do qual,
de uma maneira ou de outra, somos todos adeptos.
Mas o interessante é que as duas prometem a mesma coisa.
Vida eterna.
Em um caso a juventude e noutro a salvação da alma.
Nossos novos falsos deuses.
Mas penso mesmo é nas crianças - informes de compreensão ainda - que são
levadas pelos pais.
Então constato que Abraão continua tentanto sacrificar o próprio filho.
O bom disso tudo é que há um manicômio em frente.
E talvez Jesus escolha dar as costas a esses bezerros de ouro, atravessar a rua,
entrar e abraçar esses irmãos esquecidos - por Deus e por todos - que no fundo são
a verdadeira humanidade:
Desamparada, frágil, louca e que rasga dinheiro por saber o seu valor.
Ah, tem também um bar em frente.
Mas nesse quem entra sou eu, pois é minha vez de rezar.
(Certas coisas na vida só com um trago).
E também porque creio que Jesus prefira companhia melhor.
A certa altura uma academia de ginástica e uma igreja.
Lado a lado.
Não posso deixar de perceber a ironia .
Dois comércios.
Duas catedrais.
Numa você pode comprar o corpo perfeito e noutra vende-se, simplesmente, o próprio Deus.
E me pergunto: se Jesus se encontrasse em frente aos dois templos, em qual deles
entraria?
A pergunta é relevante já que se trata de duas das maiores religiões de nosso tempo,
perdendo em número de fiéis apenas para o Consumo - nosso deus último - do qual,
de uma maneira ou de outra, somos todos adeptos.
Mas o interessante é que as duas prometem a mesma coisa.
Vida eterna.
Em um caso a juventude e noutro a salvação da alma.
Nossos novos falsos deuses.
Mas penso mesmo é nas crianças - informes de compreensão ainda - que são
levadas pelos pais.
Então constato que Abraão continua tentanto sacrificar o próprio filho.
O bom disso tudo é que há um manicômio em frente.
E talvez Jesus escolha dar as costas a esses bezerros de ouro, atravessar a rua,
entrar e abraçar esses irmãos esquecidos - por Deus e por todos - que no fundo são
a verdadeira humanidade:
Desamparada, frágil, louca e que rasga dinheiro por saber o seu valor.
Ah, tem também um bar em frente.
Mas nesse quem entra sou eu, pois é minha vez de rezar.
(Certas coisas na vida só com um trago).
E também porque creio que Jesus prefira companhia melhor.
sábado, 11 de junho de 2011
Oriente. Mas não só.
"No fundo, uma revolta é a linguagem dos que não foram ouvidos."
Martin Luther King
Martin Luther King
João Cabral de Melo Neto
Tem esse poema do João: "Tecendo a Manhã".
Esta manhã é o futuro. Ele convida a nos unirmos para que o possamos inventar.
Mas, poeta que é, nos dá a deixa: não o contruiremos com a tecnologia, com o dinheiro.
Nós o contruiremos com as nossas vozes.
Vozes essas que precisam, primeiro, serem ouvidas. Por isso um galo "apanha" o grito de outro.
É necessário este movimento lateral para que haja o entendimento. O futuro não está a tua frente.
Está ao teu lado. Este o gesto essencial para que funcione:
Ir ao teu semelhante. Ouví-lo.
Só assim compreenderemos realmente o que diz e poderemos passar adiante a mensagem,
formando essa "tenda", que nada mais é do que um lar onde todos se reconheçam.
Um lar que se vai erguendo pelo contato, pelo convívio, pelo calor do outro.
Que se forma pelo que é ouvido. Não pelo que é dito.
Sem paredes, que é para que caibam todos.
Ele tem razão.
O mundo não é nossa casa, mas nossa tenda.
Uma casa tem limites. De capacidade, de deslocamento, de posse.
Uma casa tem trancas, que nos transformam em "os de dentro" e "os de fora".
Uma tenda está sempre aberta. É sempre um abrigo. Para quantos.
Talvez os nômades sejam mais sábios.
Tecendo a Manhã
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
João Cabral de Melo Neto
Esta manhã é o futuro. Ele convida a nos unirmos para que o possamos inventar.
Mas, poeta que é, nos dá a deixa: não o contruiremos com a tecnologia, com o dinheiro.
Nós o contruiremos com as nossas vozes.
Vozes essas que precisam, primeiro, serem ouvidas. Por isso um galo "apanha" o grito de outro.
É necessário este movimento lateral para que haja o entendimento. O futuro não está a tua frente.
Está ao teu lado. Este o gesto essencial para que funcione:
Ir ao teu semelhante. Ouví-lo.
Só assim compreenderemos realmente o que diz e poderemos passar adiante a mensagem,
formando essa "tenda", que nada mais é do que um lar onde todos se reconheçam.
Um lar que se vai erguendo pelo contato, pelo convívio, pelo calor do outro.
Que se forma pelo que é ouvido. Não pelo que é dito.
Sem paredes, que é para que caibam todos.
Ele tem razão.
O mundo não é nossa casa, mas nossa tenda.
Uma casa tem limites. De capacidade, de deslocamento, de posse.
Uma casa tem trancas, que nos transformam em "os de dentro" e "os de fora".
Uma tenda está sempre aberta. É sempre um abrigo. Para quantos.
Talvez os nômades sejam mais sábios.
Tecendo a Manhã
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
João Cabral de Melo Neto
sexta-feira, 10 de junho de 2011
12 de Junho
Émile Verhaeren.
Do seu livro: As Horas Claras.
Disseste aquela noite palavras tão bonitas
Que sem dúvida as flores suspensas sobre nós
Nos amaram também e uma, entre muitas,
Nos caiu no colo pra tocar os dois.
Falavas do futuro, quando os anos vividos
Como frutos maduros se deixariam colher;
E como quebraríamos o espelho dos destinos
E como, ao envelhecer, nos amaríamos.
Tua voz me enlaçava como um abraço querido
E teu coração ardia tão tranqüilamente belo
Que nesse instante eu teria visto sem receio se abrirem
Os tortuosos caminhos que nos levam à morte.
domingo, 5 de junho de 2011
segunda-feira, 30 de maio de 2011
O Porquê Deste Blog ou Para Que Servem As Palavras
Assisti um filme de terror uma vez, em que ocorre um blecaute num cinema.
Ao retornar a luz, a maioria das pessoas da sessão haviam desaparecido.
Os sobreviventes pouco sabem, a princípio, o porquê daquilo.
Mas percebem que o fenômeno se deu no mundo todo.
Começam a entender que há uma escuridão, que cada vez avança mais e mais.
O sol, a cada dia que passa, surge mais tarde e a noite se prolonga.
Essa escuridão tem por finalidade encurralá-los e, por fim, devorá-los.
Começam a perceber também, que a única coisa que os pode salvar é alguma luz que, por
ventura, consigam manter acessa.
Um a um, são tragados pelas sombras, enquanto correm desesperados atrás de lanternas
e postes de luz, faróis de carros e baterias portáteis.
E dessa maneira que sinto.
Essa luz é tua humanidade.
E essa sombra é a barbárie se aproximando.
Tua vida vale menos que teus pertences e é facilmente tirada por causa de uma discussão.
Essa pequena e preciosa luz, que levamos milênios para criar desde que nos arrastamos
das obscuras cavernas da nossa animalidade, está desaparecendo.
Sendo engolida pela ignorância, pela indiferença e pela esperteza daqueles que já perderam
a sua chama.
E mesmo aqueles que estão no mundo apenas pela festa, quando esta acaba - se não estão
bêbados o suficiente - sentem o perigo a rondá-los, mesmo em seus carros.
Por isso entram assustados para dentro de seus condomínios.
Esperando alí estarem a salvo.
Esquecem eles que castelos já foram postos abaixo.
Enfim: este blog sou eu, correndo com uma lanterna na mão e cuja pilha está enfraquecendo.
Mas, como os personagens do meu filme, continuarei correndo até a escuridão me engolir.
Talvez encontre mais luzes pela frente e consiga espantar as sombras.
Você tem pilhas?
Ao retornar a luz, a maioria das pessoas da sessão haviam desaparecido.
Os sobreviventes pouco sabem, a princípio, o porquê daquilo.
Mas percebem que o fenômeno se deu no mundo todo.
Começam a entender que há uma escuridão, que cada vez avança mais e mais.
O sol, a cada dia que passa, surge mais tarde e a noite se prolonga.
Essa escuridão tem por finalidade encurralá-los e, por fim, devorá-los.
Começam a perceber também, que a única coisa que os pode salvar é alguma luz que, por
ventura, consigam manter acessa.
Um a um, são tragados pelas sombras, enquanto correm desesperados atrás de lanternas
e postes de luz, faróis de carros e baterias portáteis.
E dessa maneira que sinto.
Essa luz é tua humanidade.
E essa sombra é a barbárie se aproximando.
Tua vida vale menos que teus pertences e é facilmente tirada por causa de uma discussão.
Essa pequena e preciosa luz, que levamos milênios para criar desde que nos arrastamos
das obscuras cavernas da nossa animalidade, está desaparecendo.
Sendo engolida pela ignorância, pela indiferença e pela esperteza daqueles que já perderam
a sua chama.
E mesmo aqueles que estão no mundo apenas pela festa, quando esta acaba - se não estão
bêbados o suficiente - sentem o perigo a rondá-los, mesmo em seus carros.
Por isso entram assustados para dentro de seus condomínios.
Esperando alí estarem a salvo.
Esquecem eles que castelos já foram postos abaixo.
Enfim: este blog sou eu, correndo com uma lanterna na mão e cuja pilha está enfraquecendo.
Mas, como os personagens do meu filme, continuarei correndo até a escuridão me engolir.
Talvez encontre mais luzes pela frente e consiga espantar as sombras.
Você tem pilhas?
Alberto da Cunha Melo
Parece-me que este poema fala da televisão brasileira, não?
SCRIPT
Fecha A Tempestade de Shakespeare;
depois, rasga O Tufão de Conrad.
Náufragos podem perguntar
- Porque a símile da dor,
a verdadeira já não basta?
- Por que a símile da dor,
a verdadeira já não basta?
Como se não bastasse, criamos,
com as fezes da última peste,
deuses, cada vez mais cruéis.
com as fezes da última peste,
deuses, cada vez mais cruéis.
Mas os castigos e os horrores
viriam de qualquer maneira:
"já estava escrito" - por nós -.
viriam de qualquer maneira:
"já estava escrito" - por nós -.
Também criamos pastorais ,
paraísos e fontes limpas
para os que dormiam mais cedo,
paraísos e fontes limpas
para os que dormiam mais cedo,
e não se encontravam de noite.
Mas só o horror nos fascinava
e, por isso estamos aqui
Mas só o horror nos fascinava
e, por isso, estamos aqui
de novo: - Para que inventar
a Sodoma que já existe
mais populosa, aos nossos pés?
a Sodoma que já existe
mais populosa, aos nossos pés?
Um dia temos de escolher
entre a dor que já padecemos
e a que tentamos inventar.
entre a dor que já padecemos
e a que tentamos inventar.
SCRIPT
Fecha A Tempestade de Shakespeare;
depois, rasga O Tufão de Conrad.
Náufragos podem perguntar
- Porque a símile da dor,
a verdadeira já não basta?
- Por que a símile da dor,
a verdadeira já não basta?
Como se não bastasse, criamos,
com as fezes da última peste,
deuses, cada vez mais cruéis.
com as fezes da última peste,
deuses, cada vez mais cruéis.
Mas os castigos e os horrores
viriam de qualquer maneira:
"já estava escrito" - por nós -.
viriam de qualquer maneira:
"já estava escrito" - por nós -.
Também criamos pastorais ,
paraísos e fontes limpas
para os que dormiam mais cedo,
paraísos e fontes limpas
para os que dormiam mais cedo,
e não se encontravam de noite.
Mas só o horror nos fascinava
e, por isso estamos aqui
Mas só o horror nos fascinava
e, por isso, estamos aqui
de novo: - Para que inventar
a Sodoma que já existe
mais populosa, aos nossos pés?
a Sodoma que já existe
mais populosa, aos nossos pés?
Um dia temos de escolher
entre a dor que já padecemos
e a que tentamos inventar.
entre a dor que já padecemos
e a que tentamos inventar.
domingo, 22 de maio de 2011
Jacques Prévert
PÁGINA DE ESCRITA
Dois e dois quatro
quatro e quatro oito
oito e oito dezesseis...
Repitam! diz o mestre
dois e dois quatro
quatro e quatro oito
oito e oito dezesseis.
Mas eis o pássaro lira
que passa no céu
o menino o vê
o menino o ouve
o menino o chama
Salva-me
brinca comigo
pássaro!
Então o pássaro desce
e brinca com o menino
Dois e dois quatro...
Repitam! diz o mestre
e o menino brinca
o pássaro brinca com ele...
Quatro e quatro oito
oito e oito dezesseis
e dezesseis e dezesseis quanto é?
Não é nada dezesseis e dezesseis
e sobretudo não trinta e dois
de qualquer modo
e eles se vão.
E o menino esconde o pássaro
na sua classe
e todos os meninos
ouvem sua canção
e todos os meninos
ouvem a música
e oito e oito por sua vez se vão
e quatro e quatro e dois e dois
por sua vez se retiram
e um e um não fazem nem um nem dois
um a um se vão igualmente.
E o pásssaro lira brinca
e o menino canta
e o professor grita:
Quando terminarão com esta palhaçada!
Mas todos os outros meninos
escutam a música
e os muros da aula
se desmoronam tranqüilamente.
E as vidraças voltam a ser areia
a tinta volta a ser água
as classes voltam a ser árvores
o giz volta a ser rocha
a pena volta a ser pásssaro.
Dois e dois quatro
quatro e quatro oito
oito e oito dezesseis...
Repitam! diz o mestre
dois e dois quatro
quatro e quatro oito
oito e oito dezesseis.
Mas eis o pássaro lira
que passa no céu
o menino o vê
o menino o ouve
o menino o chama
Salva-me
brinca comigo
pássaro!
Então o pássaro desce
e brinca com o menino
Dois e dois quatro...
Repitam! diz o mestre
e o menino brinca
o pássaro brinca com ele...
Quatro e quatro oito
oito e oito dezesseis
e dezesseis e dezesseis quanto é?
Não é nada dezesseis e dezesseis
e sobretudo não trinta e dois
de qualquer modo
e eles se vão.
E o menino esconde o pássaro
na sua classe
e todos os meninos
ouvem sua canção
e todos os meninos
ouvem a música
e oito e oito por sua vez se vão
e quatro e quatro e dois e dois
por sua vez se retiram
e um e um não fazem nem um nem dois
um a um se vão igualmente.
E o pásssaro lira brinca
e o menino canta
e o professor grita:
Quando terminarão com esta palhaçada!
Mas todos os outros meninos
escutam a música
e os muros da aula
se desmoronam tranqüilamente.
E as vidraças voltam a ser areia
a tinta volta a ser água
as classes voltam a ser árvores
o giz volta a ser rocha
a pena volta a ser pásssaro.
quinta-feira, 19 de maio de 2011
Pôr o pensamento a pensar
"Caídos na imanência dos dias que correm, acomodamo-nos aos lugares fixos, somos
cada vez mais espectadores indiferentes, contempladores insensíveis de um mundo sem
remissão, de onde a política, contra todas as aparências, parece ter desertado. O primado
da economia sobre tudo o resto é uma consequência do niilismo moderno que aprisionou
os homens no labirinto do mercado. O torvelinho da técnica, irmã da economia, tudo arrasta
no seu vórtice, originando novas patologias de posição, desenraizadas, transitórias, etéreas.
A política há muito que deixou de ser um caminho para a paz e a plenitude para se transformar
numa estratégia guerreira de ascensão ao poder. O ambiente enlouqueceu perante a obscena
indiferença do mundo. "Que fazer quando tudo arde?", como pergunta António Lobo Antunes
num romance homônimo. Talvez "pôr o pensamento a pensar", desenhando mapas e
contra-mapas do porvir do mundo.Talvez, sermos heterodoxos."
João Ventura
(O leitor sem Qualidades)
cada vez mais espectadores indiferentes, contempladores insensíveis de um mundo sem
remissão, de onde a política, contra todas as aparências, parece ter desertado. O primado
da economia sobre tudo o resto é uma consequência do niilismo moderno que aprisionou
os homens no labirinto do mercado. O torvelinho da técnica, irmã da economia, tudo arrasta
no seu vórtice, originando novas patologias de posição, desenraizadas, transitórias, etéreas.
A política há muito que deixou de ser um caminho para a paz e a plenitude para se transformar
numa estratégia guerreira de ascensão ao poder. O ambiente enlouqueceu perante a obscena
indiferença do mundo. "Que fazer quando tudo arde?", como pergunta António Lobo Antunes
num romance homônimo. Talvez "pôr o pensamento a pensar", desenhando mapas e
contra-mapas do porvir do mundo.Talvez, sermos heterodoxos."
João Ventura
(O leitor sem Qualidades)
Duas Frases
"Ando a cantar o mal-estar profundo dos seres humanos, dos animais e das plantas,
ando à procura de um final feliz. Ando a ver se o fulgor que, por vezes, há nas coisas,
é melhor guia do que as crenças sobre elas, ou dos pensamentos que, a propósito delas,
nos ocorrem".
Maria Gabriela Llansol
(Lisboaleipzig 2)
"A serenidade e a justeza das coisas evidentes: pão, água, o convívio com as plantas e
os animais, alguma luz mesmo de noite, alguma noite no corpo da própria luz. E o amor
como partilha do mais difícil".
Eduardo Prado Coelho
(Público)
ando à procura de um final feliz. Ando a ver se o fulgor que, por vezes, há nas coisas,
é melhor guia do que as crenças sobre elas, ou dos pensamentos que, a propósito delas,
nos ocorrem".
Maria Gabriela Llansol
(Lisboaleipzig 2)
"A serenidade e a justeza das coisas evidentes: pão, água, o convívio com as plantas e
os animais, alguma luz mesmo de noite, alguma noite no corpo da própria luz. E o amor
como partilha do mais difícil".
Eduardo Prado Coelho
(Público)
quarta-feira, 18 de maio de 2011
Um Poema
Na Morte de Ezequiel Martínez Estrada
Se o universo fosse limitado em suas combinações,
Caberia alguma esperança. Mas não há nenhuma.
Por isso lhe dou esta espécie de adeus,
Lhe assegurando que no rio dos meus acasos,
E nos de muitos como eu,
Há um que foi você.
E é esta a única imortalidade possível:
Que eu já não possa ser como era
Antes de o ter conhecido e querido muito.
Tudo não é mais do que um sopro:
Você, eu, o universo, mas
Já que existiu gente como você,
É provável, bastante provável,
Que tudo isto tenha algum sentido.
Por enquanto já sei: não baixar a cabeça.
Obrigado, e adeus.
Roberto Fernández Retamar
(Só Poema Bom - Paulo Hecher Filho)
segunda-feira, 9 de maio de 2011
O Velho "Buck"
SPLASH
a ilusão é pensar que você está apenas
lendo este poema.
a realidade é que isto é
mais que um
poema.
isto é a faca do mendigo.
isto é uma tulipa.
isto é um soldado marchando
sobre Madri.
isto é você no seu
leito de morte.
isto é Li Po rindo
lá embaixo.
isto não é a porra
de um poema.
isto é um cavalo adormecido.
uma borboleta em
seu cérebro.
isto é o circo
do diabo.
você não está lendo isto
numa página.
a página é que está lendo
você.
sacou?
é como uma cobra.
é uma águia faminta
rondando o quarto.
isto não é um poema.
poemas são um tédio,
eles te fazem dormir.
essas palavras te arrastam
para uma nova
loucura.
você foi abençoado,
você foi atirado
num
lugar que cega
de tanta luz.
o elefante sonha
com você
agora.
a curva do espaço
se curva e ri.
você já pode morrer agora.
você já pode morrer do jeito
que as pessoas deveriam
morrer:
esplêndidas,
vitoriosas,
ouvindo música,
rugindo,
rugindo,
rugindo.
Charles Bukowski
(Revista Coyote)
a ilusão é pensar que você está apenas
lendo este poema.
a realidade é que isto é
mais que um
poema.
isto é a faca do mendigo.
isto é uma tulipa.
isto é um soldado marchando
sobre Madri.
isto é você no seu
leito de morte.
isto é Li Po rindo
lá embaixo.
isto não é a porra
de um poema.
isto é um cavalo adormecido.
uma borboleta em
seu cérebro.
isto é o circo
do diabo.
você não está lendo isto
numa página.
a página é que está lendo
você.
sacou?
é como uma cobra.
é uma águia faminta
rondando o quarto.
isto não é um poema.
poemas são um tédio,
eles te fazem dormir.
essas palavras te arrastam
para uma nova
loucura.
você foi abençoado,
você foi atirado
num
lugar que cega
de tanta luz.
o elefante sonha
com você
agora.
a curva do espaço
se curva e ri.
você já pode morrer agora.
você já pode morrer do jeito
que as pessoas deveriam
morrer:
esplêndidas,
vitoriosas,
ouvindo música,
rugindo,
rugindo,
rugindo.
Charles Bukowski
(Revista Coyote)
Um Conto
Relí ontem o conto "O Pedestre" de Ray Bradbury.
Eis um trecho:
- Negócio, ou profissão?
- Acho que me pode chamar de escritor.
- Sem profissão - disse o carro de polícia, como se falando sozinho. A luz mantinha-o
transfixado como um espécime de museu, agulha espetada no meio do peito.
- Pode-se dizer que sim - afirmou o sr. Mead. Havia anos que não escrevia. Não se
vendiam mais livros e revistas. Tudo continuava como sempre nas casas-tumbas, à noite,
ele pensou. Os túmulos, mal-iluminados pela luz da televisão, onde as pessoas sentavam-se
como os mortos, as luzes cinzentas ou multicoloridas tocando suas faces, mas nunca de
fato tocando a eles.
Eis um trecho:
- Negócio, ou profissão?
- Acho que me pode chamar de escritor.
- Sem profissão - disse o carro de polícia, como se falando sozinho. A luz mantinha-o
transfixado como um espécime de museu, agulha espetada no meio do peito.
- Pode-se dizer que sim - afirmou o sr. Mead. Havia anos que não escrevia. Não se
vendiam mais livros e revistas. Tudo continuava como sempre nas casas-tumbas, à noite,
ele pensou. Os túmulos, mal-iluminados pela luz da televisão, onde as pessoas sentavam-se
como os mortos, as luzes cinzentas ou multicoloridas tocando suas faces, mas nunca de
fato tocando a eles.
domingo, 8 de maio de 2011
Campos de Carvalho
"Se não posso mudar o mundo, tampouco permitirei que o mundo me mude a mim,
arrancando-me esse câncer de mistérios e heresias que é toda a minha riqueza e que
faz com que minha voz não seja apenas o grunhido de um porco, nem meu olhar
apenas o olhar de um peixe dentro do aquário."
Da revista Coyote
arrancando-me esse câncer de mistérios e heresias que é toda a minha riqueza e que
faz com que minha voz não seja apenas o grunhido de um porco, nem meu olhar
apenas o olhar de um peixe dentro do aquário."
Da revista Coyote
sábado, 7 de maio de 2011
Arte Moderna e Pós-moderna
"Desde o instante em que a arte deixa de ser o alimento para as melhores mentes,
o artista pode usar todos os truques do charlatão intelectual. Hoje em dia, a maioria
das pessoas não espera mais receber consolo ou exaltação da arte.
Os "refinados", os ricos, os ociosos profissionais, os destiladores de quintessências
buscam o que é novo, estranho, extravagante, escandaloso na arte. Eu mesmo, desde
o cubismo e além dele, contentei esses mestres e esses críticos com todas as bizarrices
mutáveis que me passaram pela cabeça.
E quanto menos eles me compreendiam, mais eles me admiravam. À força de me
divertir com todas essas brincadeiras, com todos esses quebra-cabeças, enigmas,
arabescos, eu fiquei célebre, e muito rapidamente. E a celebridade para um pintor
significa vendas, lucros , fortuna, riqueza. E hoje, como o senhor sabe, eu sou famoso,
eu sou rico.
Mas, quando estou sozinho comigo mesmo, não tenho a coragem de me considerar
um artista no sentido antigo e grande da palavra. Giotto, Tiziano, Rembrandt e Goya
foram grandes pintores: eu sou apenas um divertidor do público - um charlatão.
Compreendi o tempo em que vivi e explorei a imbecilidade, a vaidade, a avidez de
meus contemporâneos. É uma amarga confissão a minha, na verdade mais dolorosa
do que parece. Mas ela tem o mérito de ser sincera."
Giovanni Papini
( Libro Nero, 1951)
o artista pode usar todos os truques do charlatão intelectual. Hoje em dia, a maioria
das pessoas não espera mais receber consolo ou exaltação da arte.
Os "refinados", os ricos, os ociosos profissionais, os destiladores de quintessências
buscam o que é novo, estranho, extravagante, escandaloso na arte. Eu mesmo, desde
o cubismo e além dele, contentei esses mestres e esses críticos com todas as bizarrices
mutáveis que me passaram pela cabeça.
E quanto menos eles me compreendiam, mais eles me admiravam. À força de me
divertir com todas essas brincadeiras, com todos esses quebra-cabeças, enigmas,
arabescos, eu fiquei célebre, e muito rapidamente. E a celebridade para um pintor
significa vendas, lucros , fortuna, riqueza. E hoje, como o senhor sabe, eu sou famoso,
eu sou rico.
Mas, quando estou sozinho comigo mesmo, não tenho a coragem de me considerar
um artista no sentido antigo e grande da palavra. Giotto, Tiziano, Rembrandt e Goya
foram grandes pintores: eu sou apenas um divertidor do público - um charlatão.
Compreendi o tempo em que vivi e explorei a imbecilidade, a vaidade, a avidez de
meus contemporâneos. É uma amarga confissão a minha, na verdade mais dolorosa
do que parece. Mas ela tem o mérito de ser sincera."
Giovanni Papini
( Libro Nero, 1951)
Para Sempre
Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
àgua pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fôsse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará para sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
Carlos Drummond de Andrade
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
àgua pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fôsse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará para sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
Carlos Drummond de Andrade
terça-feira, 3 de maio de 2011
Dois Documentários
Há uma citação, não lembro-me de quem, que diz:
"O que é roubar um banco comparado com fundar um banco ?"
E conheço uma piada que diz:
"Os bancos instalaram câmeras de segurança para identificarem os ladrões.
Por que ? Não se conhecem os donos?"
E a Zero Hora publicou um artigo criminoso no caderno de economia desta semana.
Escrito - claro - por um economista da chamada "Escola de Chicago", que prega a
liberdade(desregulamentação) dos bancos e do sistema financeiro.
Liberdade esta que foi responsável pela última crise mundial e acabou com sonhos e
projetos de inúmeros trabalhadores e pais de família no mundo todo.
E que afetou qualquer um que precise trabalhar para viver.
Corroborando o que foi escrito acima, ví dois documentários imperdíveis - para quem
vive no mundo e se importa.
Ao menos consigo mesmo.
Imperdíveis porque explicam para onde vai o dinheiro que não tens para pagar tuas
contas, porque perdes teu emprego e porque teus filhos vão ter que passar por cima de
outros seres humanos para sobreviver.
Creio que este é um assunto que te interessa. Ou não ?
Agora que já passou o casamento real, e antes que a mídia crie outro factóide para
distraí-lo, procure estes filmes:
- "Trabalho Interno" - ainda em cartaz na Casa de Cultura Mário Quintana ou disponível
para download na rede e "A Doutrina do Choque" disponível na rede.
Assista.
É imprescindível.
"O que é roubar um banco comparado com fundar um banco ?"
E conheço uma piada que diz:
"Os bancos instalaram câmeras de segurança para identificarem os ladrões.
Por que ? Não se conhecem os donos?"
E a Zero Hora publicou um artigo criminoso no caderno de economia desta semana.
Escrito - claro - por um economista da chamada "Escola de Chicago", que prega a
liberdade(desregulamentação) dos bancos e do sistema financeiro.
Liberdade esta que foi responsável pela última crise mundial e acabou com sonhos e
projetos de inúmeros trabalhadores e pais de família no mundo todo.
E que afetou qualquer um que precise trabalhar para viver.
Corroborando o que foi escrito acima, ví dois documentários imperdíveis - para quem
vive no mundo e se importa.
Ao menos consigo mesmo.
Imperdíveis porque explicam para onde vai o dinheiro que não tens para pagar tuas
contas, porque perdes teu emprego e porque teus filhos vão ter que passar por cima de
outros seres humanos para sobreviver.
Creio que este é um assunto que te interessa. Ou não ?
Agora que já passou o casamento real, e antes que a mídia crie outro factóide para
distraí-lo, procure estes filmes:
- "Trabalho Interno" - ainda em cartaz na Casa de Cultura Mário Quintana ou disponível
para download na rede e "A Doutrina do Choque" disponível na rede.
Assista.
É imprescindível.
domingo, 1 de maio de 2011
Do Livro "A Resistência"
Porque, à medida que nos relacionamos de forma mais abstrata, vamos nos afastando
do coração das coisas, e uma indiferença metafísica se apossa de nós, enquanto entidades
sem sangue nem nome tomam o poder. Tragicamente, o homem está perdendo o diálogo
com os demais e o reconhecimento do mundo que o rodeia, quando é nele que se dá o
encontro, a possibilidade do amor, os gestos supremos da vida.
As palavras à mesa, inclusive as discussões ou brigas, parecem substituídas pela visão
hipnótica. A televisão tantaliza, como que nos enfeitiça. Esse efeito entre mágico e maléfico
resulta, penso, do excesso de luz que nos toma com sua intensidade. Inevitável lembrar que
ela produz o mesmo efeito nos insetos,e até nos grandes animais.
Então não apenas é difícil afastar-se dela, como também perdemos a capacidade de olhar
e ver o cotidiano. Uma rua com árvores enormes, os olhos cândidos no rosto de uma mulher
velha, as nuvens de um entardecer. A floração da acácia em pleno inverno não chama a atenção
de quem não chega sequer a apreciar os jacarandás de Buenos Aires.
Muitas vezes me espantei ao perceber como enxergamos melhor as paisagens no cinema
do que na realidade.
Ernesto Sabato
do coração das coisas, e uma indiferença metafísica se apossa de nós, enquanto entidades
sem sangue nem nome tomam o poder. Tragicamente, o homem está perdendo o diálogo
com os demais e o reconhecimento do mundo que o rodeia, quando é nele que se dá o
encontro, a possibilidade do amor, os gestos supremos da vida.
As palavras à mesa, inclusive as discussões ou brigas, parecem substituídas pela visão
hipnótica. A televisão tantaliza, como que nos enfeitiça. Esse efeito entre mágico e maléfico
resulta, penso, do excesso de luz que nos toma com sua intensidade. Inevitável lembrar que
ela produz o mesmo efeito nos insetos,e até nos grandes animais.
Então não apenas é difícil afastar-se dela, como também perdemos a capacidade de olhar
e ver o cotidiano. Uma rua com árvores enormes, os olhos cândidos no rosto de uma mulher
velha, as nuvens de um entardecer. A floração da acácia em pleno inverno não chama a atenção
de quem não chega sequer a apreciar os jacarandás de Buenos Aires.
Muitas vezes me espantei ao perceber como enxergamos melhor as paisagens no cinema
do que na realidade.
Ernesto Sabato
domingo, 24 de abril de 2011
Pessoa
Poema Em Linha Reta
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco,tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondìvelmente parasita,
Indescupavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco,
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes- na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ò príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
Fernando Pessoa
sexta-feira, 22 de abril de 2011
Um Pouco de Bernardo Soares
"Passam com todas as atitudes com que se define a consciência, e não têm
consciência de nada, porque não têm consciência de ter consciência. Uns inteligentes,
outros estúpidos, são todos igualmente estúpidos. Uns velhos, outros jovens, são
da mesma idade. Uns homens, outros mulheres, são do mesmo sexo que não existe."
"Essas criaturas tinham todas vendido a alma a um diabo da plebe infernal, avarento
de sordidezas e de relaxamentos. Viviam a intoxicação da vaidade e do ócio, e morriam
molemente, entre coxins de palavras, num amarfanhamento de lacraus de cuspo."
"Podres diabos sempre com fome- ou com fome de almoço, ou com fome de
celebridade, ou com fome das sobremesas da vida. Quem os ouve, e os não conhece,
julga estar escutando os mestres de Napoleão e os instrutores de Shakespeare."
consciência de nada, porque não têm consciência de ter consciência. Uns inteligentes,
outros estúpidos, são todos igualmente estúpidos. Uns velhos, outros jovens, são
da mesma idade. Uns homens, outros mulheres, são do mesmo sexo que não existe."
"Essas criaturas tinham todas vendido a alma a um diabo da plebe infernal, avarento
de sordidezas e de relaxamentos. Viviam a intoxicação da vaidade e do ócio, e morriam
molemente, entre coxins de palavras, num amarfanhamento de lacraus de cuspo."
"Podres diabos sempre com fome- ou com fome de almoço, ou com fome de
celebridade, ou com fome das sobremesas da vida. Quem os ouve, e os não conhece,
julga estar escutando os mestres de Napoleão e os instrutores de Shakespeare."
Feriado
Estranha fauna essa que migra, em desespero, para longe do lugar
em que passa a maior parte da sua vida - matando-se no trajeto - ao
invés de viver em um lugar do qual não precisem fugir, sempre que tem
chance.
em que passa a maior parte da sua vida - matando-se no trajeto - ao
invés de viver em um lugar do qual não precisem fugir, sempre que tem
chance.
segunda-feira, 18 de abril de 2011
Máquina do Tempo
Ando sentindo falta de um raio de sol dos meus nove anos
Que encontrei refletido em teus olhos, dez anos depois.
E de uma brisa que roçou meu rosto aos quatorze,
E que voltou para brincar em teus cabelos quando te conheci.
De uma rua que desci, esperançoso, atrás dessa mesma brisa.
Como a antecipar-te quando, então, ainda nem presença eras.
Sinto saudades de um dia de chuva em que pensei no futuro,
E te sabias sorrindo em alguma janela.
E de uma tarde em que descobri a morte,
E que no entanto era apenas a janela vazia.
De quando o medo não era amargo, os sonhos sem desespero.
Dos trilhos de um trem nos ombros de meu avô,
E da minha vó pra sempre.
(Como isso me lembra de ti).
De quando pequei pela primeira vez - cinco ave-maria e um pai-nosso -
E de como soube que tu eras o pão e o vinho.
Hoje, cego e sem Virgílio, busco-te Beatriz.
Sabendo-me confinado ao nono círculo para todo sempre.
Que encontrei refletido em teus olhos, dez anos depois.
E de uma brisa que roçou meu rosto aos quatorze,
E que voltou para brincar em teus cabelos quando te conheci.
De uma rua que desci, esperançoso, atrás dessa mesma brisa.
Como a antecipar-te quando, então, ainda nem presença eras.
Sinto saudades de um dia de chuva em que pensei no futuro,
E te sabias sorrindo em alguma janela.
E de uma tarde em que descobri a morte,
E que no entanto era apenas a janela vazia.
De quando o medo não era amargo, os sonhos sem desespero.
Dos trilhos de um trem nos ombros de meu avô,
E da minha vó pra sempre.
(Como isso me lembra de ti).
De quando pequei pela primeira vez - cinco ave-maria e um pai-nosso -
E de como soube que tu eras o pão e o vinho.
Hoje, cego e sem Virgílio, busco-te Beatriz.
Sabendo-me confinado ao nono círculo para todo sempre.
Uma Fala
- Queria não ter conhecido a pureza...mas conheci.
E agora tudo está perdido !
Franz Anton Mesmer
(em um filme)
E agora tudo está perdido !
Franz Anton Mesmer
(em um filme)
quarta-feira, 13 de abril de 2011
C'est La Vie: ??????
O SISTEMA/1
Os funcionários não funcionam.
Os políticos falam mas não dizem.
Os votantes votam mas não escolhem.
Os meios de informação desinformam.
Os centros de ensino ensinam a ignorar.
Os juízes condenam as vítimas.
Os militares estão em guerra contra seus compatriotas.
Os policiais não combatem os crimes, porque estão ocupados cometendo-os.
As bancarrotas são socializadas, os lucros são privatizados.
O dinheiro é mais livre que as pessoas.
As pessoas estão a serviço das coisas.
Eduardo Galeano
(Livro dos Abraços)
Os funcionários não funcionam.
Os políticos falam mas não dizem.
Os votantes votam mas não escolhem.
Os meios de informação desinformam.
Os centros de ensino ensinam a ignorar.
Os juízes condenam as vítimas.
Os militares estão em guerra contra seus compatriotas.
Os policiais não combatem os crimes, porque estão ocupados cometendo-os.
As bancarrotas são socializadas, os lucros são privatizados.
O dinheiro é mais livre que as pessoas.
As pessoas estão a serviço das coisas.
Eduardo Galeano
(Livro dos Abraços)
Pão e Circo
Há pouco tempo, num jogo de vôlei, uma torcida inteira urrou a homossexualidade de um
jogador do time adversário, tentando desestabilizá-lo.
Era um jogo importante, se não estou enganado. Decisão de um título, acho.
Então é lícito que se perca o respeito por um ser humano.
Que se jogue às favas a dignidade de alguém.
Que se apele ao mais reles preconceito: Tudo pelo nosso time.
Já se vem fazendo isso há muito tempo neste país.
Aqui não se mata por direitos, mas por futebol.
Não se range os dentes para a injustiça mas para o adversário.
"Jornalistas" discutem seriamente um 0x0 medíocre entre jogadores medíocres.
Enquanto a violência e a falta de ética grassam nos gramados e mal são noticiadas,
homens feitos aguardam ansiosamente por uma copa do mundo.
E continuarão aguardando ansiosamente, no chão de uma sala de espera de um hospital.
E ansiosamente sairão a rua para trabalhar, temendo a falta de segurança.
- Não há dinheiro - dizem.
O que não há é vergonha na cara - digo eu.
Como ter esperanças ?
Antonio Abujamra diz que a esperança matou este país.
E não sei se cada povo tem o governo que merece...
(Embora muitas vezes pareça que sim).
Panis et Circences...
jogador do time adversário, tentando desestabilizá-lo.
Era um jogo importante, se não estou enganado. Decisão de um título, acho.
Então é lícito que se perca o respeito por um ser humano.
Que se jogue às favas a dignidade de alguém.
Que se apele ao mais reles preconceito: Tudo pelo nosso time.
Já se vem fazendo isso há muito tempo neste país.
Aqui não se mata por direitos, mas por futebol.
Não se range os dentes para a injustiça mas para o adversário.
"Jornalistas" discutem seriamente um 0x0 medíocre entre jogadores medíocres.
Enquanto a violência e a falta de ética grassam nos gramados e mal são noticiadas,
homens feitos aguardam ansiosamente por uma copa do mundo.
E continuarão aguardando ansiosamente, no chão de uma sala de espera de um hospital.
E ansiosamente sairão a rua para trabalhar, temendo a falta de segurança.
- Não há dinheiro - dizem.
O que não há é vergonha na cara - digo eu.
Como ter esperanças ?
Antonio Abujamra diz que a esperança matou este país.
E não sei se cada povo tem o governo que merece...
(Embora muitas vezes pareça que sim).
Panis et Circences...
Essa mulher...
Queria já ter dito algo sobre essa mulher, que denunciou e enfrentou os policiais
assassinos no cemitério.
Mas não encontrava o texto certo que queria anexar(sempre a literatura!).
Queria dizer-lhe que este tipo de coisa, ultimamente, só tenho visto em mulheres.
De como nos faltam homens com essa coragem.
E que prestei atenção na maneira como ela se expressou:
Claramente e com firmeza.
E de como sinto falta disso nos jornalistas.
E que por causa dela, todos nos tornamos um pouco melhores.
E que minha família ,desde esse dia , ficou maior.
A Arte e o Tempo
Quem são meus contemporâneos? - Pergunta-se Juan Gelman.
Juan diz que às vezes encontra homens que têm cheiro de medo, em Buenos Aires,
em Paris, ou em qualquer lugar, e sente que estes homens não são seus contemporâneos.
Mas existe um chinês que há milhares de anos escreveu um poema, sobre um pastor
de cabras que está longe, muito longe da mulher amada e mesmo assim pode escutar, no
meio da noite, no meio da neve , o rumor do pente em seus cabelos.
E lendo esse poema remoto, Juan comprova que sim, que eles sim:
Que esse poeta, esse pastor e essa mulher são seus contemporâneos.
Eduardo Galeano
assassinos no cemitério.
Mas não encontrava o texto certo que queria anexar(sempre a literatura!).
Queria dizer-lhe que este tipo de coisa, ultimamente, só tenho visto em mulheres.
De como nos faltam homens com essa coragem.
E que prestei atenção na maneira como ela se expressou:
Claramente e com firmeza.
E de como sinto falta disso nos jornalistas.
E que por causa dela, todos nos tornamos um pouco melhores.
E que minha família ,desde esse dia , ficou maior.
A Arte e o Tempo
Quem são meus contemporâneos? - Pergunta-se Juan Gelman.
Juan diz que às vezes encontra homens que têm cheiro de medo, em Buenos Aires,
em Paris, ou em qualquer lugar, e sente que estes homens não são seus contemporâneos.
Mas existe um chinês que há milhares de anos escreveu um poema, sobre um pastor
de cabras que está longe, muito longe da mulher amada e mesmo assim pode escutar, no
meio da noite, no meio da neve , o rumor do pente em seus cabelos.
E lendo esse poema remoto, Juan comprova que sim, que eles sim:
Que esse poeta, esse pastor e essa mulher são seus contemporâneos.
Eduardo Galeano
terça-feira, 12 de abril de 2011
Nós nos salvaremos pelos afetos.
" Não devemos desperdiçar a graça dos pequenos momentos de liberdade de que podemos
desfrutar : uma mesa compartilhada com pessoas que amamos, umas criaturas que ampararemos,
uma caminhada entre as árvores, a gratidão de um abraço. Nós nos salvaremos pelos afetos.
O mundo nada pode contra um homem que canta na miséria. "
Ernesto Sabato
desfrutar : uma mesa compartilhada com pessoas que amamos, umas criaturas que ampararemos,
uma caminhada entre as árvores, a gratidão de um abraço. Nós nos salvaremos pelos afetos.
O mundo nada pode contra um homem que canta na miséria. "
Ernesto Sabato
domingo, 10 de abril de 2011
sábado, 9 de abril de 2011
Troféu
Na atual situação da televisão brasileira, me parece irônico que os "melhores" sejam premiados
com um troféu imprensa.
Há algo de podre neste reino.
com um troféu imprensa.
Há algo de podre neste reino.
quarta-feira, 6 de abril de 2011
Soube Que Vocês Nada Querem Aprender
Soube que vocês nada querem aprender
Então devo concluir que são milionários.
Seu futuro esta garantido - à sua frente
Iluminado. Seus pais
Cuidaram para que seus pés
Não topassem com nenhuma pedra. Neste caso
Você nada precisa aprender. Assim como é
Pode ficar.
Havendo ainda dificuldade, pois os tempos
Como ouvi dizer são incertos
Você tem seus líderes, que lhe dizem exatamente
O que tem a fazer, para que vocês estejam bem.
Eles leram aqueles que sabem
As verdades válidas para todos os tempos
E as receitas que sempre funcionam.
Onde há tantos a seu favor
Você não precisa levantar um dedo.
Sem dúvida, se fosse diferente
Você teria que aprender.
Bertolt Brecht
Então devo concluir que são milionários.
Seu futuro esta garantido - à sua frente
Iluminado. Seus pais
Cuidaram para que seus pés
Não topassem com nenhuma pedra. Neste caso
Você nada precisa aprender. Assim como é
Pode ficar.
Havendo ainda dificuldade, pois os tempos
Como ouvi dizer são incertos
Você tem seus líderes, que lhe dizem exatamente
O que tem a fazer, para que vocês estejam bem.
Eles leram aqueles que sabem
As verdades válidas para todos os tempos
E as receitas que sempre funcionam.
Onde há tantos a seu favor
Você não precisa levantar um dedo.
Sem dúvida, se fosse diferente
Você teria que aprender.
Bertolt Brecht
quinta-feira, 31 de março de 2011
Por Elder dos Santos
"ESTUDANTE QUER DEIXAR O ESTADO DEVIDO A RACISMO E VIOLÊNCIA".
Pra você que não sabe do que eu estou falando - e eu me pergunto como você pode
não saber - pra que se importar ?
É só mais um negro.
Negro No Sul
No sul o negro charqueou
lavrou
carreteou
no sul o negro remou
teceu
diabo a quatro
o negro no sul congou
bumbou
batucou
a negra no sul cozinhou
lavou
diabo a quatro
no sul o negro brigou
guerreou
se libertou
quer dizer: ainda se liberta
de mil disfarçadas senzalas
prisões
diabo a quatro
onde tentam mantê-lo agrilhoado.
Oliveira Silveira
Pra você que não sabe do que eu estou falando - e eu me pergunto como você pode
não saber - pra que se importar ?
É só mais um negro.
Negro No Sul
No sul o negro charqueou
lavrou
carreteou
no sul o negro remou
teceu
diabo a quatro
o negro no sul congou
bumbou
batucou
a negra no sul cozinhou
lavou
diabo a quatro
no sul o negro brigou
guerreou
se libertou
quer dizer: ainda se liberta
de mil disfarçadas senzalas
prisões
diabo a quatro
onde tentam mantê-lo agrilhoado.
Oliveira Silveira
quarta-feira, 30 de março de 2011
terça-feira, 29 de março de 2011
Há alguma coisa no ar...
Procurem:
Homenzinhocapenga.
Domeiodaspedras.
Comendoespelhos.
Thepangares.
Telmascherer.
Homenzinhocapenga.
Domeiodaspedras.
Comendoespelhos.
Thepangares.
Telmascherer.
segunda-feira, 28 de março de 2011
domingo, 27 de março de 2011
Um Documentário
" Eles devem achar difícil...
Aqueles que consideram a autoridade como sendo a verdade,
Ao invés da verdade sendo a autoridade".
Frase do egiptólogo G. Morsey que abre o documentário chamado "Zeitgeist"
Transcrevo a seguir uma fala de Richard Albert que está no fecho do documentário:
"Agora, na nossa cultura, fomos treinados para que as nossas individualidades se destacassem.
Por isso olhas para cada pessoa e ela é imediatamente mais esperta, mais burra, mais velha,
mais nova, mais rica, mais pobre. Fazemos todas essas distinções dimensionais, pomo-la em
categorias e tratamo-la dessa maneira.
E chegamos ao ponto em que só vês os outros separados de nós, do modo em que eles estão
separados.
E uma das características dramáticas da experiência é estar com outra pessoa e de repente
reparar nos aspectos em que é exatamente igual a ti, e não diferente de ti, é experienciar o fato
de que aquilo que é a essência em ti, e que é a essência em mim, é uma coisa só.
O compreender que não há um outro. Somos todos um só.
Eu não nasci como Richard Albert; eu nasci apenas como um ser humano. E só depois
apareceu toda essa história de quem sou eu, ser bom ou mau, ou de alcançar ou não...
Tudo isso é aprendido ao longo do caminho".
Aqueles que consideram a autoridade como sendo a verdade,
Ao invés da verdade sendo a autoridade".
Frase do egiptólogo G. Morsey que abre o documentário chamado "Zeitgeist"
Transcrevo a seguir uma fala de Richard Albert que está no fecho do documentário:
"Agora, na nossa cultura, fomos treinados para que as nossas individualidades se destacassem.
Por isso olhas para cada pessoa e ela é imediatamente mais esperta, mais burra, mais velha,
mais nova, mais rica, mais pobre. Fazemos todas essas distinções dimensionais, pomo-la em
categorias e tratamo-la dessa maneira.
E chegamos ao ponto em que só vês os outros separados de nós, do modo em que eles estão
separados.
E uma das características dramáticas da experiência é estar com outra pessoa e de repente
reparar nos aspectos em que é exatamente igual a ti, e não diferente de ti, é experienciar o fato
de que aquilo que é a essência em ti, e que é a essência em mim, é uma coisa só.
O compreender que não há um outro. Somos todos um só.
Eu não nasci como Richard Albert; eu nasci apenas como um ser humano. E só depois
apareceu toda essa história de quem sou eu, ser bom ou mau, ou de alcançar ou não...
Tudo isso é aprendido ao longo do caminho".
Um Filme
Inverno da Alma(Winter's Bone) - de Debra Granik.
Creio ter-se conseguido neste filme o que não se conseguiu com a refilmagem de
"Bravura Indômita" dos irmãos Coen.
sexta-feira, 25 de março de 2011
Um Diretor
Filme "Cobra Verde" de Werner Herzog:
Após surgir em uma cidadezinha terceiro-mundista e afugentar todos os moradores devido a sua fama - merecida - de matador sanguinário, Cobra Verde entra em um bar cujo dono é anão e corcunda. Este, no entanto, o enfrenta mandando deixar a arma na entrada, caso contrário seria posto para fora. Cobra verde obedece e dá-se o seguinte diálogo:
- Eu sou corcunda. À noite sonho que carrego uma cordilheira.
- Você é o único homem reto da cidade.
Na história do cinema algumas vezes dá-se o encontro de dois gigantes.
É este o caso. De um lado este ator monstruoso que é Klaus Kinski e do outro esse diretor que para mim é o mais latino-americano dos diretores alemães: Werner Herzog.
Protagonizaram juntos vários filmes.
Há que se assistí-los.
Após surgir em uma cidadezinha terceiro-mundista e afugentar todos os moradores devido a sua fama - merecida - de matador sanguinário, Cobra Verde entra em um bar cujo dono é anão e corcunda. Este, no entanto, o enfrenta mandando deixar a arma na entrada, caso contrário seria posto para fora. Cobra verde obedece e dá-se o seguinte diálogo:
- Eu sou corcunda. À noite sonho que carrego uma cordilheira.
- Você é o único homem reto da cidade.
Na história do cinema algumas vezes dá-se o encontro de dois gigantes.
É este o caso. De um lado este ator monstruoso que é Klaus Kinski e do outro esse diretor que para mim é o mais latino-americano dos diretores alemães: Werner Herzog.
Protagonizaram juntos vários filmes.
Há que se assistí-los.
O Pão do Povo
A justiça é o pão do povo.
Às vezes bastante, às vezes pouca.
Às vezes de gosto bom, às vezes de gosto ruim.
Quando o pão é pouco, há fome.
Quando o pão é ruim, há descontentamento.
Fora com a justíça ruim !
Cozida sem amor, amassada sem saber !
A justiça sem sabor, cuja casca é cinzenta !
A justiça de ontem, que chega tarde demais !
Quando o pão é bom e bastante
O resto da refeição pode ser perdoado.
Não pode haver logo tudo em abundância
Alimentado do pão da justiça
Pode ser feito o trabalho
De que resulta a abundância.
Como é necessário o pão diário
É necessária a justiça diária.
Sim, mesmo várias vezes ao dia.
De manhã, à noite, no trabalho, no prazer.
No trabalho que é prazer.
Nos tempos duros e nos felizes.
O povo necessita do pão diário
Da justiça, bastante e saudável.
Sendo o pão da justiça tão importante
Quem, amigos, deve prepará-lo ?
Quem prepara o outro pão ?
Assim como o outro pão
Deve o pão da justiça
Ser preparado pelo povo.
Bastante, saudável, diário.
Bertolt Brecht
Perdoem-me se abuso de Brecht...
Mas Brecht é incontornável.
E como diz o Cézar Dias: necessário e bom.
P.S.: Fiquei sabendo agora (04:21 horas) do menino baleado por policiais.
Pobre povo faminto de pães.
Às vezes bastante, às vezes pouca.
Às vezes de gosto bom, às vezes de gosto ruim.
Quando o pão é pouco, há fome.
Quando o pão é ruim, há descontentamento.
Fora com a justíça ruim !
Cozida sem amor, amassada sem saber !
A justiça sem sabor, cuja casca é cinzenta !
A justiça de ontem, que chega tarde demais !
Quando o pão é bom e bastante
O resto da refeição pode ser perdoado.
Não pode haver logo tudo em abundância
Alimentado do pão da justiça
Pode ser feito o trabalho
De que resulta a abundância.
Como é necessário o pão diário
É necessária a justiça diária.
Sim, mesmo várias vezes ao dia.
De manhã, à noite, no trabalho, no prazer.
No trabalho que é prazer.
Nos tempos duros e nos felizes.
O povo necessita do pão diário
Da justiça, bastante e saudável.
Sendo o pão da justiça tão importante
Quem, amigos, deve prepará-lo ?
Quem prepara o outro pão ?
Assim como o outro pão
Deve o pão da justiça
Ser preparado pelo povo.
Bastante, saudável, diário.
Bertolt Brecht
Perdoem-me se abuso de Brecht...
Mas Brecht é incontornável.
E como diz o Cézar Dias: necessário e bom.
P.S.: Fiquei sabendo agora (04:21 horas) do menino baleado por policiais.
Pobre povo faminto de pães.
O Abrigo Noturno
Soube que em Nova York
Na esquina da Rua 26 com a Broadway
Todas as noites do inverno há um homem
Que arranja abrigo noturno para os que ali não tem teto
Fazendo pedidos aos passantes.
O mundo não vai mudar com isso
As relações entre os homens não vão melhorar
A era da exploração não vai durar menos
Mas alguns homens têm um abrigo noturno
Por uma noite o vento é mantido longe deles
A neve que cairia sobre eles cai na calçada.
Não ponha de lado o livro, você que me lê.
Alguns homens têm um abrigo noturno
Por uma noite o vento é mantido longe deles
A neve que cairia sobre eles cai na calçada
Mas o mundo não vai mudar com isso
As relações emtre os homens não vão melhorar
A era da exploração não vai durar menos.
Bertolt Brecht
É interessante como Brecht consegue um efeito humanizador com a repetição dos versos.
Na terceira estrofe - após pedir para não interrompermos a leitura - é como se tivesse caminhado alguns passos em nossa direção, se aproximado e dito esses versos olhando em nossos olhos.
Mas ao mesmo tempo - e essa é a grande sacada de Brecht - ele desloca o objeto de seu pensar.
Muda o foco daqueles homens desabrigados, que por uma noite conseguem abrigo graças a uma alma
que se importa.
Agora ele fala é de nós.
Aqueles abrigados e que sentem-se seguros. Confortáveis o suficiente para poder lê-lo.
Avisa-nos que estamos seguros.
Mas apenas por esta noite.
E que se não fizermos algo, a neve e o vento certamente virão.
Para todos.
Na esquina da Rua 26 com a Broadway
Todas as noites do inverno há um homem
Que arranja abrigo noturno para os que ali não tem teto
Fazendo pedidos aos passantes.
O mundo não vai mudar com isso
As relações entre os homens não vão melhorar
A era da exploração não vai durar menos
Mas alguns homens têm um abrigo noturno
Por uma noite o vento é mantido longe deles
A neve que cairia sobre eles cai na calçada.
Não ponha de lado o livro, você que me lê.
Alguns homens têm um abrigo noturno
Por uma noite o vento é mantido longe deles
A neve que cairia sobre eles cai na calçada
Mas o mundo não vai mudar com isso
As relações emtre os homens não vão melhorar
A era da exploração não vai durar menos.
Bertolt Brecht
É interessante como Brecht consegue um efeito humanizador com a repetição dos versos.
Na terceira estrofe - após pedir para não interrompermos a leitura - é como se tivesse caminhado alguns passos em nossa direção, se aproximado e dito esses versos olhando em nossos olhos.
Mas ao mesmo tempo - e essa é a grande sacada de Brecht - ele desloca o objeto de seu pensar.
Muda o foco daqueles homens desabrigados, que por uma noite conseguem abrigo graças a uma alma
que se importa.
Agora ele fala é de nós.
Aqueles abrigados e que sentem-se seguros. Confortáveis o suficiente para poder lê-lo.
Avisa-nos que estamos seguros.
Mas apenas por esta noite.
E que se não fizermos algo, a neve e o vento certamente virão.
Para todos.
segunda-feira, 21 de março de 2011
Hollywood
A cada manhã, para ganhar meu pão
Vou ao mercado onde mentiras são compradas.
Esperançoso
Tomo lugar entre os vendedores.
Bertolt Brecht
Me sentia um pouco assim quando estava professor.
Não. Me sentia muito assim.
Nunca mais !
Vou ao mercado onde mentiras são compradas.
Esperançoso
Tomo lugar entre os vendedores.
Bertolt Brecht
Me sentia um pouco assim quando estava professor.
Não. Me sentia muito assim.
Nunca mais !
Em Tempos Negros
Não se dirá : Quando a nogueira balançou no vento
Mas sim : Quando o pintor de paredes esmagou os trabalhadores.
Não se dirá : Quando o menino fez deslizar a pedra lisa pela superfície da correnteza
Mas sim : Quando prepararam as grandes guerras.
Não se dirá : Quando a mulher foi para o quarto
Mas sim : Quando os grandes poderes se uniram contra os trabalhadores.
Mas não se dirá : Os tempos eram negros
E sim : Por que os seus poetas silenciaram ?
Bertolt Brecht
Por vezes - demais - esquecemos que não são tempos de paz estes.
Nunca são. Há sempre uma guerra em algum lugar.
Há sempre alguém lutando para sobreviver lá fora.
Ficamos tranquilos porque quem morreu foi um um japonês ininteligível ou um líbio fanático.
Um bandido - suposto - ou um traficante - a menos.
Mas ontem mesmo meu vizinho voltou para casa derrotado.
E a senhora da frente mandou fortificar a casa.
Eu mesmo passo na esquina armado de preconceitos.
E já ví meninos de rua em formação de batalha.
Ninguém é inocente.
Estamos todos alistados quer queiramos ou não.
Lí em algum lugar : Que homem é o homem que não torna o mundo melhor ?
Faz-se necessário que lutemos o bom combate.
Sempre.
Mas sim : Quando o pintor de paredes esmagou os trabalhadores.
Não se dirá : Quando o menino fez deslizar a pedra lisa pela superfície da correnteza
Mas sim : Quando prepararam as grandes guerras.
Não se dirá : Quando a mulher foi para o quarto
Mas sim : Quando os grandes poderes se uniram contra os trabalhadores.
Mas não se dirá : Os tempos eram negros
E sim : Por que os seus poetas silenciaram ?
Bertolt Brecht
Por vezes - demais - esquecemos que não são tempos de paz estes.
Nunca são. Há sempre uma guerra em algum lugar.
Há sempre alguém lutando para sobreviver lá fora.
Ficamos tranquilos porque quem morreu foi um um japonês ininteligível ou um líbio fanático.
Um bandido - suposto - ou um traficante - a menos.
Mas ontem mesmo meu vizinho voltou para casa derrotado.
E a senhora da frente mandou fortificar a casa.
Eu mesmo passo na esquina armado de preconceitos.
E já ví meninos de rua em formação de batalha.
Ninguém é inocente.
Estamos todos alistados quer queiramos ou não.
Lí em algum lugar : Que homem é o homem que não torna o mundo melhor ?
Faz-se necessário que lutemos o bom combate.
Sempre.
quinta-feira, 17 de março de 2011
Canção Escrava
Se eu tivesse minha vontade
Eu poria esta casa abaixo.
Deus Poderoso, neste caso, se eu tivesse minha vontade
Se eu tivesse minha vontade, criancinhas,
Eu poria esta casa abaixo.
Eu poria esta casa abaixo.
Deus Poderoso, neste caso, se eu tivesse minha vontade
Se eu tivesse minha vontade, criancinhas,
Eu poria esta casa abaixo.
Esta canção consta como epígrafe da primeira parte do livro de James Baldwin chamado: "e pelas praças não terá nome".
E deveria estar inscrita nos túmulos de cada um dos líbios que já morreram e que morrerão, ainda, por essa ficção chamada "liberdade", sem a qual certamente somos menos.
Pode parecer um contra-senso mas Kadafi NÃO cairá pelo mesmo motivo que Mubarak caiu: Os militares.
Nunca subestimem os milicos.
Nunca subestimem os milicos.
Nunca subestimem os milicos.
Nunca subestimem os milicos.
Durante trinta anos eles apoiaram Mubarak. Por esse motivo ele deteve tanto tempo o poder. Quando perdeu seu apoio o povo conseguiu derrubá-lo. Com Kadafi se deu o contrário, pois este ainda tem suas forças armadas ao seu lado. Pobre povo que, no entanto, também é responsável pela sua situação.
Aproveito-me da epígrafe de Baldwin e parafraseio o meu amigo Carlos Marx:
- Escravos do mundo todo, uní-vos !
Porque os há - os escravos - e eles são muitos e cada vez podem menos.
E cada vez podem menos porque são cada vez mais ignorantes.
Há a revolta porque a pele sente o que a consciência não entende.Então o povo sofre e acha injusto e se rebela. Mas não compreende. Profundamente não compreende sua própria condição e como chegou até ela.
Há a revolta porque a pele sente o que a consciência não entende.Então o povo sofre e acha injusto e se rebela. Mas não compreende. Profundamente não compreende sua própria condição e como chegou até ela.
Francis Bacon já dizia: " O homem pode tanto quanto sabe".
Mas tal qual aquele grego que, em pleno dia, procurava um homem honesto com uma vela acesa pelas ruas da cidade, onde encontrar quem queira realmente saber?
Borges : Un poco más...
LOS JUSTOS
Un hombre que cultiva su jardim, como quería Voltaire.
El que agradece que en la tierra haya música.
El que descubre con placer una etimología.
Dos empleados que en un café del Sur juegan un silencioso ajedrez.
El ceramista que premedita un color y una forma.
El tipógrafo que compone bien esta página, que talvez no le agrada.
Una mujer y un hombre que leen los tercetos finales de cierto canto.
El que acaricia a un animal dormido.
El que justifica o quiere justificar un mal que le han hecho.
El que agradece que en la tierra haya Stevenson.
El que prefiere que los otros tengan razón.
Esas personas, que se ignoran, están salvando el mundo.
Do livro "La Cifra"
Este poema é aqui colocado porque o Cezar disse a seus alunos para prestarem atenção no que é belo e triste; e porque o Jorge disse para a Sílvia que barco em que ele estava não afundava; e porque o Elcione está longe, este poema é também para ele. E para o Akin. Que não precisa de motivo.
Un hombre que cultiva su jardim, como quería Voltaire.
El que agradece que en la tierra haya música.
El que descubre con placer una etimología.
Dos empleados que en un café del Sur juegan un silencioso ajedrez.
El ceramista que premedita un color y una forma.
El tipógrafo que compone bien esta página, que talvez no le agrada.
Una mujer y un hombre que leen los tercetos finales de cierto canto.
El que acaricia a un animal dormido.
El que justifica o quiere justificar un mal que le han hecho.
El que agradece que en la tierra haya Stevenson.
El que prefiere que los otros tengan razón.
Esas personas, que se ignoran, están salvando el mundo.
Do livro "La Cifra"
Este poema é aqui colocado porque o Cezar disse a seus alunos para prestarem atenção no que é belo e triste; e porque o Jorge disse para a Sílvia que barco em que ele estava não afundava; e porque o Elcione está longe, este poema é também para ele. E para o Akin. Que não precisa de motivo.
Un poco de Borges
MIS LIBROS
Mis libros (que no saben que yo existo)
Son tan parte de mí como este rostro
De sienes grises y de grises ojos
Que vanamente busco em los cristales
Y que recorro con la mano cóncava.
No sin alguna lógica amargura
Pienso que las palabras esenciales
Que me expresan están en esas hojas
Que no saben quién soy, no en las que he escrito.
Mejor así. Las voces de los muertos
Me dirán para siempre.
Poema do livro "La Rosa Profunda".
Que me perdoe Borges, mas penso que meus livros sabem que eu existo.
Acaso não sentem a materialidade da minha mão ao procurá-los nas estantes ?
E a ânsia nervosa ao folheá-los como quem passeia pelo corpo da amada ?
Não se perguntam - Quem é este ? - quando vou até eles em busca de respostas
como se interrogasse o próprio Deus ?
E não somos da mesma família, quando através deles tenho notícias de Voltaire, Goethe, Poe,Wilde,
Dostoievski, Drummond, Bandeira e tantos outros (que bom que a família é grande) meus irmãos, que não vejo faz muito tempo ?
E não sentam eles à minha mesa durante as refeições e deitam na minha cama à noite me pondo pra dormir ?
Tenho aprendido tanto com eles quanto com meus pais e chorado com eles as mesmas lágrimas que já ví minha irmã derramar.
E de mim recebem eles carinhos e cuidados como os não recebe o filho que não tenho.
Sí, mis libros saben que yo existo e quién soy.
Sei também que Borges já sabia disso.
terça-feira, 15 de março de 2011
quarta-feira, 9 de março de 2011
Guy de Maupassant
Acredito que a mesma fala de Maupassant sobre o mistério serve para a inocência, a sensibilidade, o amor e outros tantos "maravilhosos" que faziam parte de nossas vidas quando vivíamos nos bosques, morrendo de medo da noite eterna. E quando ainda éramos todos poetas. Rogo para que não os deixemos morrer.
Transcrevo a seguir excertos de uma crônica deste escritor sobre o qual - à beira de seu túmulo - disse Émile Zola: (...) Nós o compreendíamos porque ele era a clareza, a simplicidade, a medida e a força. Nós o amávamos porque ele tinha a bondade espirituosa, a sátira profunda que, quase por um milagre, não se tornava perversa, a alegria destemida que persiste mesmo sob as lágrimas. Ele pertencia à grande linhagem dos escritores franceses. Teve como predecessores Rabelais, Montaigne, Moliére, La Fontaine, os fortes e lúcidos, aqueles que são a razão e a luz de nossa literatura.
Então se diz: "Não há mais mistérios; todo inexplicado será explicável um dia; o sobrenatural baixa como um lago, que um canal consome; a ciência, a todo momento diminui os limites do maravilhoso".
O maravilhoso! Outrora ele cobria a terra. Era com ele que ensinávamos as crianças; os homens se ajoelhavam diante dele; o ancião, à beira da tumba, arrepiava-se desvairado ante as concepções da ignorância humana.
Mas os homens vieram, os filósofos a frente, depois os sábios, e adentraram com ousadia essa espessa e temida floresta de superstições; eles a cortaram sem cessar, abrindo caminhos para permitir que outros viessem; e depois se puseram a desbravá-la com fúria, produzindo o vazio, a planície, a luz ao redor deste bosque terrível.
A cada dia eles reasseguram suas fileiras e ampliam as fronteiras da ciência; e esta fronteira da ciência é o limite de dois campos. Deste lado, o que era até ontem o não conhecido; do outro, o desconhecido que será conhecido amanhã. Esse resto de floresta é o único espaço deixado ainda para os poetas, para os sonhadores. Pois nós temos sempre uma invencível necessidade de sonhar; nossa antiga raça, acostumada a não compreender, a não indagar, a não saber, feita dos mistérios envolventes, recusa-se à verdade pura e simples. A explicação matemática de suas lendas seculares, de suas poéticas religiões, causa-lhes indignação, como sacrilégio! Ela se agarra a seus fetiches, insulta os lenhadores, apelando desesperadamente aos poetas.
Apressem-se, oh poetas. vocês não tem mais do que um pequeno pedaço de floresta para nos conduzir. Este é de vocês ainda; mas que não se enganem, que não tentem entrar no espaço que acabamos de explorar.
Os poetas respondem: "O maravilhoso é eterno. Que importa a ciência reveladora, já que temos a poesia criadora! Nós somos os inventores de idéias, inventores dos ídolos. Os artífices dos sonhos.
Conduziremos sempre os homens pelo país do maravilhoso, povoado dos seres extraordinários que nossa imaginação cria".
Pois sim! Os homens não lhes seguirão mais. oh poetas.
(...) Acabou-se, acabou-se. As coisas não falam mais, não cantam mais, elas têm suas leis! A fonte murmura simplesmente a quantidade de água que ela despeja.
(...) O grande céu estrelado não nos espanta mais. Conhecemos as fases da vida dos astros, as figuras de seus movimentos, o tempo que necessitam para lançar sua luz.
A noite não nos apavora mais, já não tem nem fantasmas nem espíritos para nós.
E digo eu : É uma pena.
E digo eu : É uma pena.
Trilha
Alguém por favor "ouça" a trilha sonora de "O Último Samurai " e sinta que a grandeza ainda não morreu.
sábado, 5 de março de 2011
Ray Bradbury
Estou lendo "As Crônicas Marcianas" de Ray Bradbury...
Precisamos ler mais Bradbury !
Todos.
Precisamos ler mais Bradbury !
Todos.
terça-feira, 1 de março de 2011
sábado, 26 de fevereiro de 2011
Da virtude apequenadora
Pois ele (Zaratustra) quis informar-se sobre o que, nesse meio tempo, acontecera ao homem : se ele havia ficado maior ou menor. E vendo certa vez uma fileira de casas novas, admirou-se e disse : 'Que significam essas casas ? Com certeza, não foi nenhuma grande alma que as ergueu, à sua semelhança !...
esses quartos e câmaras : podem homens entrar e sair deles?'
*
E Zaratustra parou e pensou . Finalmente disse, entristecido: 'Tudo ficou menor!'
Em todos os lugares, vejo portões mais baixos: quem é do meu porte provavelmente ainda consegue passar, mas terá de se curvar!
...Ando por entre esse povo mantendo os olhos abertos: eles se tornaram menores e ficam cada vez menores - nisso, contudo, consiste sua concepção de felicidade e virtude.
*
...Alguns deles querem; quanto à maioria, porém, outros querem por eles...
...São redondos, corretos e bons uns com os outros, assim como grãos de areia são redondos, corretos e bons com grãos de areia.
Abraçar modestamente uma pequena felicidade - a isso chamam 'resignação'!...
*
Querem no fundo ingenuamente uma coisa acima de tudo: que ninguém lhes faça mal ...
A virtude é para eles aquilo que torna modesto e domesticado : com ela fazem do lobo um cão, e dos próprios homens os melhores animais domésticos para o homens.
Assim falou Zaratustra
Friedrich Nietzsche
Lí, algum tempo atrás, o livro "Homem Lento" de J. M. Coetzee.
Somos todos homens lentos.
Talvez porque nos faltem pedaços que vamos perdendo pelos caminhos da vida.
Uns não têm uma perna, um braço ou um olho. Outros perderam um grande amor (porque há amores pequenos !!!) e outros ainda perderam o emprego, um irmão, uma mãe, a esperança ou a sí
mesmos.
Assim, vamos nos tornando menores a medida que avança o tempo.
Disso deu-se conta Nietzsche 'esse mestre do pensamento perigoso' - como o chamou Peter Sloterdjik.
Mas acredito que, assim como podemos diminuir, também possamos voltar a crescer.
Isso acontece quando se cria um filho dentro dos melhores valores humanos, e quando respeitamos o "outro" em vez de o temer, ou quando assumimos nossos atos com todas as suas consequências e temos a coragem de lutar pelo que é correto.
São gestos cada vez mais raros esses.
Mas essenciais para podermos nos conceber como uma civilização.
Estou dando um outro enfoque à colocação de Nietzsche, mas voltarei a ele oportunamente.
esses quartos e câmaras : podem homens entrar e sair deles?'
*
E Zaratustra parou e pensou . Finalmente disse, entristecido: 'Tudo ficou menor!'
Em todos os lugares, vejo portões mais baixos: quem é do meu porte provavelmente ainda consegue passar, mas terá de se curvar!
...Ando por entre esse povo mantendo os olhos abertos: eles se tornaram menores e ficam cada vez menores - nisso, contudo, consiste sua concepção de felicidade e virtude.
*
...Alguns deles querem; quanto à maioria, porém, outros querem por eles...
...São redondos, corretos e bons uns com os outros, assim como grãos de areia são redondos, corretos e bons com grãos de areia.
Abraçar modestamente uma pequena felicidade - a isso chamam 'resignação'!...
*
Querem no fundo ingenuamente uma coisa acima de tudo: que ninguém lhes faça mal ...
A virtude é para eles aquilo que torna modesto e domesticado : com ela fazem do lobo um cão, e dos próprios homens os melhores animais domésticos para o homens.
Assim falou Zaratustra
Friedrich Nietzsche
Lí, algum tempo atrás, o livro "Homem Lento" de J. M. Coetzee.
Somos todos homens lentos.
Talvez porque nos faltem pedaços que vamos perdendo pelos caminhos da vida.
Uns não têm uma perna, um braço ou um olho. Outros perderam um grande amor (porque há amores pequenos !!!) e outros ainda perderam o emprego, um irmão, uma mãe, a esperança ou a sí
mesmos.
Assim, vamos nos tornando menores a medida que avança o tempo.
Disso deu-se conta Nietzsche 'esse mestre do pensamento perigoso' - como o chamou Peter Sloterdjik.
Mas acredito que, assim como podemos diminuir, também possamos voltar a crescer.
Isso acontece quando se cria um filho dentro dos melhores valores humanos, e quando respeitamos o "outro" em vez de o temer, ou quando assumimos nossos atos com todas as suas consequências e temos a coragem de lutar pelo que é correto.
São gestos cada vez mais raros esses.
Mas essenciais para podermos nos conceber como uma civilização.
Estou dando um outro enfoque à colocação de Nietzsche, mas voltarei a ele oportunamente.
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
Infeliz da nação que precisa de heróis
Acredito que em tempos de "Big Brothers, Ronaldinhos e Celebridades" a frase de Bertolt Brecht é mais do que necessária e dispensa explicações.
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