Pois ele (Zaratustra) quis informar-se sobre o que, nesse meio tempo, acontecera ao homem : se ele havia ficado maior ou menor. E vendo certa vez uma fileira de casas novas, admirou-se e disse : 'Que significam essas casas ? Com certeza, não foi nenhuma grande alma que as ergueu, à sua semelhança !...
esses quartos e câmaras : podem homens entrar e sair deles?'
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E Zaratustra parou e pensou . Finalmente disse, entristecido: 'Tudo ficou menor!'
Em todos os lugares, vejo portões mais baixos: quem é do meu porte provavelmente ainda consegue passar, mas terá de se curvar!
...Ando por entre esse povo mantendo os olhos abertos: eles se tornaram menores e ficam cada vez menores - nisso, contudo, consiste sua concepção de felicidade e virtude.
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...Alguns deles querem; quanto à maioria, porém, outros querem por eles...
...São redondos, corretos e bons uns com os outros, assim como grãos de areia são redondos, corretos e bons com grãos de areia.
Abraçar modestamente uma pequena felicidade - a isso chamam 'resignação'!...
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Querem no fundo ingenuamente uma coisa acima de tudo: que ninguém lhes faça mal ...
A virtude é para eles aquilo que torna modesto e domesticado : com ela fazem do lobo um cão, e dos próprios homens os melhores animais domésticos para o homens.
Assim falou Zaratustra
Friedrich Nietzsche
Lí, algum tempo atrás, o livro "Homem Lento" de J. M. Coetzee.
Somos todos homens lentos.
Talvez porque nos faltem pedaços que vamos perdendo pelos caminhos da vida.
Uns não têm uma perna, um braço ou um olho. Outros perderam um grande amor (porque há amores pequenos !!!) e outros ainda perderam o emprego, um irmão, uma mãe, a esperança ou a sí
mesmos.
Assim, vamos nos tornando menores a medida que avança o tempo.
Disso deu-se conta Nietzsche 'esse mestre do pensamento perigoso' - como o chamou Peter Sloterdjik.
Mas acredito que, assim como podemos diminuir, também possamos voltar a crescer.
Isso acontece quando se cria um filho dentro dos melhores valores humanos, e quando respeitamos o "outro" em vez de o temer, ou quando assumimos nossos atos com todas as suas consequências e temos a coragem de lutar pelo que é correto.
São gestos cada vez mais raros esses.
Mas essenciais para podermos nos conceber como uma civilização.
Estou dando um outro enfoque à colocação de Nietzsche, mas voltarei a ele oportunamente.
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