"Caídos na imanência dos dias que correm, acomodamo-nos aos lugares fixos, somos
cada vez mais espectadores indiferentes, contempladores insensíveis de um mundo sem
remissão, de onde a política, contra todas as aparências, parece ter desertado. O primado
da economia sobre tudo o resto é uma consequência do niilismo moderno que aprisionou
os homens no labirinto do mercado. O torvelinho da técnica, irmã da economia, tudo arrasta
no seu vórtice, originando novas patologias de posição, desenraizadas, transitórias, etéreas.
A política há muito que deixou de ser um caminho para a paz e a plenitude para se transformar
numa estratégia guerreira de ascensão ao poder. O ambiente enlouqueceu perante a obscena
indiferença do mundo. "Que fazer quando tudo arde?", como pergunta António Lobo Antunes
num romance homônimo. Talvez "pôr o pensamento a pensar", desenhando mapas e
contra-mapas do porvir do mundo.Talvez, sermos heterodoxos."
João Ventura
(O leitor sem Qualidades)
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