quinta-feira, 19 de maio de 2011

Pôr o pensamento a pensar

     "Caídos na imanência dos dias que correm, acomodamo-nos aos lugares fixos, somos
   cada vez mais espectadores indiferentes, contempladores insensíveis de um mundo sem
   remissão, de onde a política, contra todas as aparências, parece ter desertado. O primado
   da economia sobre tudo o resto é uma consequência do niilismo moderno que aprisionou
   os homens no labirinto do mercado. O torvelinho da técnica, irmã da economia, tudo arrasta
   no seu vórtice, originando novas patologias de posição, desenraizadas, transitórias, etéreas.
   A política há muito que deixou de ser um caminho para a paz e a plenitude para se transformar
   numa estratégia guerreira de ascensão ao poder. O ambiente enlouqueceu perante a obscena
   indiferença do mundo. "Que fazer quando tudo arde?", como pergunta António Lobo Antunes 
   num romance homônimo. Talvez "pôr o pensamento a pensar", desenhando mapas e
   contra-mapas do porvir do mundo.Talvez, sermos heterodoxos."

                                                                       
                                                                                             João Ventura
                                                                                   (O leitor sem Qualidades)

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