sexta-feira, 25 de março de 2011

O Abrigo Noturno

Soube que em Nova York
Na esquina da Rua 26 com a Broadway
Todas as noites do inverno há um homem
Que arranja abrigo noturno para os que ali não tem teto
Fazendo pedidos aos passantes.

O mundo não vai mudar com isso
As relações entre os homens não vão melhorar
A era da exploração não vai durar menos
Mas alguns homens têm um abrigo noturno
Por uma noite o vento é mantido longe deles
A neve que cairia sobre eles cai na calçada.
Não ponha de lado o livro, você que me lê.

Alguns homens têm um abrigo noturno
Por uma noite o vento é mantido longe deles
A neve que cairia sobre eles cai na calçada
Mas o mundo não vai mudar com isso
As relações emtre os homens não vão melhorar
A era da exploração não vai durar menos.

                                         
                                                  Bertolt Brecht

     É interessante como Brecht consegue um efeito humanizador com a repetição dos versos.
     Na terceira estrofe - após pedir para não interrompermos a leitura - é como se tivesse caminhado alguns passos em nossa direção, se aproximado e dito esses versos olhando em nossos olhos.
     Mas ao mesmo tempo - e essa é a grande sacada de Brecht - ele desloca o objeto de seu pensar.
     Muda o foco daqueles homens desabrigados, que por uma noite conseguem abrigo graças a uma alma
que se importa.
     Agora ele fala é de nós.
     Aqueles abrigados e que sentem-se seguros. Confortáveis o suficiente para poder lê-lo.
     Avisa-nos que estamos seguros.
     Mas apenas por esta noite.
     E que se não fizermos algo, a neve e o vento certamente virão.
     Para todos.

    

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