Caminho pela avenida Bento Gonçalves, em Porto Alegre.
A certa altura uma academia de ginástica e uma igreja.
Lado a lado.
Não posso deixar de perceber a ironia .
Dois comércios.
Duas catedrais.
Numa você pode comprar o corpo perfeito e noutra vende-se, simplesmente, o próprio Deus.
E me pergunto: se Jesus se encontrasse em frente aos dois templos, em qual deles
entraria?
A pergunta é relevante já que se trata de duas das maiores religiões de nosso tempo,
perdendo em número de fiéis apenas para o Consumo - nosso deus último - do qual,
de uma maneira ou de outra, somos todos adeptos.
Mas o interessante é que as duas prometem a mesma coisa.
Vida eterna.
Em um caso a juventude e noutro a salvação da alma.
Nossos novos falsos deuses.
Mas penso mesmo é nas crianças - informes de compreensão ainda - que são
levadas pelos pais.
Então constato que Abraão continua tentanto sacrificar o próprio filho.
O bom disso tudo é que há um manicômio em frente.
E talvez Jesus escolha dar as costas a esses bezerros de ouro, atravessar a rua,
entrar e abraçar esses irmãos esquecidos - por Deus e por todos - que no fundo são
a verdadeira humanidade:
Desamparada, frágil, louca e que rasga dinheiro por saber o seu valor.
Ah, tem também um bar em frente.
Mas nesse quem entra sou eu, pois é minha vez de rezar.
(Certas coisas na vida só com um trago).
E também porque creio que Jesus prefira companhia melhor.
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