domingo, 19 de junho de 2011

gratia Domini nostri Iesu Christi cum omnibus

     Caminho pela avenida Bento Gonçalves, em Porto Alegre.
     A certa altura uma academia de ginástica e uma igreja.
      Lado a lado.
      Não posso deixar de perceber a ironia .
      Dois comércios.
      Duas catedrais.
      Numa você pode comprar o corpo perfeito e noutra vende-se, simplesmente, o próprio Deus.
      E me pergunto: se Jesus se encontrasse em frente aos dois templos, em qual  deles
entraria?
      A pergunta é relevante já que se trata de duas das maiores religiões de nosso tempo,
perdendo em número de fiéis apenas para o Consumo - nosso deus  último - do qual,
de uma maneira ou de outra, somos todos adeptos.
      Mas o interessante é que as duas prometem a mesma coisa.
      Vida eterna.
      Em um caso a juventude e noutro a salvação da alma.
      Nossos novos falsos deuses.
      Mas penso mesmo é nas crianças - informes de compreensão ainda - que são
levadas pelos pais.
       Então constato que Abraão continua tentanto sacrificar o próprio filho.
       O bom disso tudo é que há um manicômio em frente.
       E talvez Jesus escolha dar as costas a esses bezerros de ouro, atravessar  a rua,
entrar e abraçar  esses irmãos esquecidos - por Deus e por todos - que no fundo são
a verdadeira humanidade:
        Desamparada, frágil, louca e que rasga dinheiro por saber o seu valor. 
       Ah, tem também um bar em frente.
       Mas nesse quem entra sou eu, pois é minha vez de rezar.
       (Certas coisas na vida só com um trago). 
       E também porque creio que Jesus prefira companhia melhor.

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