quarta-feira, 13 de abril de 2011

Essa mulher...

     Queria já ter dito algo sobre essa mulher, que denunciou e enfrentou os policiais
assassinos no cemitério.
     Mas não encontrava o texto certo que queria anexar(sempre a literatura!).
     Queria dizer-lhe que este tipo de coisa, ultimamente, só tenho visto em mulheres.
     De como nos faltam homens com essa coragem.  
     E que prestei atenção na maneira como ela se expressou:
     Claramente e com firmeza.
     E de como sinto falta disso nos jornalistas.
     E que por causa dela, todos nos tornamos um pouco melhores.
     E que minha família ,desde esse dia , ficou maior.


                                   A Arte e o Tempo

     Quem são meus contemporâneos? - Pergunta-se Juan Gelman.
     Juan diz que às vezes encontra homens que têm cheiro de medo, em Buenos Aires,
em Paris, ou em qualquer lugar, e sente que estes homens não são seus contemporâneos.
     Mas existe um chinês que há milhares de anos escreveu um poema, sobre um pastor
de cabras que está longe, muito longe da mulher amada e mesmo assim pode escutar, no
meio da noite, no meio da neve , o rumor do pente em seus cabelos.
     E lendo esse poema remoto, Juan comprova que sim, que eles sim:
     Que esse poeta, esse pastor e essa mulher são seus contemporâneos.

                                                           
                                                              Eduardo Galeano             
 

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