segunda-feira, 30 de maio de 2011

Alberto da Cunha Melo

     Parece-me que este poema fala da televisão brasileira, não?

                             SCRIPT

     Fecha A Tempestade de Shakespeare;
     depois, rasga O Tufão de Conrad.
     Náufragos podem perguntar
     - Porque a símile da dor,
     a verdadeira já não basta?

     - Por que a símile da dor,
     a verdadeira já não basta?
     Como se não bastasse, criamos,
     com as fezes da última peste,
     deuses, cada vez mais cruéis.

     com as fezes da última peste,
     deuses, cada vez mais cruéis.
     Mas os castigos e os horrores
     viriam de qualquer maneira:
     "já estava escrito" - por nós -.

     viriam  de qualquer maneira:
     "já estava escrito" - por nós -.
     Também criamos pastorais ,
     paraísos e fontes limpas
     para os que dormiam mais cedo,

     paraísos e fontes limpas
     para os que dormiam mais cedo,
     e não se encontravam de noite.
     Mas só o horror nos fascinava
     e, por isso estamos aqui

     Mas só o horror nos fascinava
     e, por isso, estamos aqui
     de novo: - Para que inventar
     a Sodoma que já existe
     mais populosa, aos nossos pés?

     a Sodoma que já existe
     mais populosa, aos nossos pés?
     Um dia temos de escolher
     entre a dor que já padecemos
     e a que tentamos inventar.
        
     entre a dor que já padecemos
     e a que tentamos inventar.
        

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