quinta-feira, 31 de março de 2011

Por Elder dos Santos

    "ESTUDANTE QUER DEIXAR O ESTADO DEVIDO A RACISMO E VIOLÊNCIA".

    Pra você que não sabe do que eu estou falando - e eu me pergunto como você pode
não saber -  pra que se importar ?
    É só mais um negro.


             Negro No Sul

     No sul o negro charqueou
                             lavrou
                             carreteou
     no sul  o  negro remou 
                             teceu
                             diabo a quatro
     o negro no  sul  congou
                             bumbou
                             batucou
     a negra no  sul  cozinhou
                             lavou
                             diabo a quatro
     no sul o  negro  brigou
                             guerreou
                             se libertou

     quer dizer: ainda se liberta
     de mil disfarçadas senzalas
                             prisões
                             diabo a quatro
     onde tentam mantê-lo agrilhoado.                        

                    
                                       Oliveira Silveira

quarta-feira, 30 de março de 2011

R.I.P.

     Neste país necrófilo
     Carente de cidadãos
     Morreu mais um "herói".

terça-feira, 29 de março de 2011

Há alguma coisa no ar...

     Procurem:

     Homenzinhocapenga.
     Domeiodaspedras.
     Comendoespelhos.
     Thepangares.
     Telmascherer.

       

segunda-feira, 28 de março de 2011

Uma Frase

     - Enquanto você grita gol eles te matam !

      Frase escrita em um viaduto de Porto Alegre.

domingo, 27 de março de 2011

Por ordem

     Precisamos nos educar.
     Nos livrar dos militares.
     E depois dos bancos.

Um Documentário

     " Eles devem achar difícil...
       Aqueles que consideram a autoridade como sendo a verdade,
       Ao invés da verdade sendo a autoridade".

       Frase do egiptólogo G. Morsey que abre o documentário chamado "Zeitgeist"


       Transcrevo a seguir uma fala de Richard Albert que está no fecho do documentário:

     "Agora, na nossa cultura, fomos treinados para que as nossas individualidades se destacassem.
     Por isso olhas para cada pessoa e ela é imediatamente mais esperta, mais burra, mais velha,
mais nova, mais rica, mais pobre. Fazemos todas essas distinções dimensionais, pomo-la em
categorias e tratamo-la dessa maneira.
     E chegamos ao ponto em que só vês os outros separados de nós, do modo em que eles estão
separados.
     E uma das características dramáticas da experiência é estar com outra pessoa e de repente
reparar nos aspectos em que é exatamente igual a ti, e não diferente de ti, é experienciar o fato
de que aquilo que é a essência em ti, e que é a essência em mim, é uma coisa só.
     O compreender que não há um outro. Somos todos um só.
     Eu não nasci como Richard Albert; eu nasci apenas como um ser humano. E só depois
apareceu toda essa história de quem sou eu, ser bom ou mau, ou de alcançar ou não...
     Tudo isso é aprendido ao longo do caminho".       
    
      

Um Filme

    
     Inverno da Alma(Winter's Bone) - de Debra Granik.

     Creio ter-se conseguido neste filme o que não se conseguiu com a refilmagem de
 "Bravura Indômita" dos irmãos Coen.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Um Diretor

     Filme "Cobra Verde" de Werner Herzog:

     Após surgir em uma cidadezinha terceiro-mundista e afugentar todos os moradores devido a sua fama - merecida - de matador sanguinário, Cobra Verde entra em um bar cujo dono é anão e corcunda. Este, no entanto, o enfrenta mandando deixar a arma na entrada, caso contrário seria posto para fora. Cobra verde obedece e dá-se o seguinte diálogo:

     - Eu sou corcunda. À noite sonho que carrego uma cordilheira.
     - Você é o único homem reto da cidade.

     Na história do cinema algumas vezes dá-se o encontro de dois gigantes.
     É este o caso. De um lado este ator monstruoso que é Klaus Kinski e do outro esse diretor que para mim é o mais latino-americano dos diretores alemães: Werner Herzog.
     Protagonizaram juntos vários filmes.
     Há que se assistí-los.

O Pão do Povo

     A justiça é o pão do povo.
     Às vezes bastante, às vezes pouca.
     Às vezes de gosto bom, às vezes de gosto ruim.
     Quando o pão é pouco, há fome.
     Quando o pão é ruim, há descontentamento.

     Fora com a justíça ruim !
     Cozida sem amor, amassada sem saber !
     A justiça sem sabor, cuja casca é cinzenta !
     A justiça de ontem, que chega tarde demais !
     Quando o pão é bom e bastante
     O resto da refeição pode ser perdoado.
     Não pode haver logo tudo em abundância
     Alimentado do pão da justiça
     Pode ser feito o trabalho
     De que resulta a abundância.

     Como é necessário o pão diário
     É necessária a justiça diária.
     Sim, mesmo várias vezes ao dia.

     De manhã, à noite, no trabalho, no prazer.
     No trabalho que é prazer.
     Nos tempos duros e nos felizes.
     O povo necessita do pão diário
     Da justiça, bastante e saudável.
     Sendo o pão da justiça tão importante
     Quem, amigos, deve prepará-lo ?

     Quem prepara o outro pão ?
     Assim como o outro pão
     Deve o pão da justiça
     Ser preparado pelo povo.

     Bastante, saudável, diário.


                                                 Bertolt Brecht


     Perdoem-me se abuso de Brecht...
     Mas Brecht é incontornável.
     E como diz o Cézar Dias: necessário e bom.

     P.S.:  Fiquei sabendo agora (04:21 horas) do menino baleado por policiais.
              Pobre povo faminto de pães.

  

Um Conto

     "Por um Bife" - de Jack London.

O Abrigo Noturno

Soube que em Nova York
Na esquina da Rua 26 com a Broadway
Todas as noites do inverno há um homem
Que arranja abrigo noturno para os que ali não tem teto
Fazendo pedidos aos passantes.

O mundo não vai mudar com isso
As relações entre os homens não vão melhorar
A era da exploração não vai durar menos
Mas alguns homens têm um abrigo noturno
Por uma noite o vento é mantido longe deles
A neve que cairia sobre eles cai na calçada.
Não ponha de lado o livro, você que me lê.

Alguns homens têm um abrigo noturno
Por uma noite o vento é mantido longe deles
A neve que cairia sobre eles cai na calçada
Mas o mundo não vai mudar com isso
As relações emtre os homens não vão melhorar
A era da exploração não vai durar menos.

                                         
                                                  Bertolt Brecht

     É interessante como Brecht consegue um efeito humanizador com a repetição dos versos.
     Na terceira estrofe - após pedir para não interrompermos a leitura - é como se tivesse caminhado alguns passos em nossa direção, se aproximado e dito esses versos olhando em nossos olhos.
     Mas ao mesmo tempo - e essa é a grande sacada de Brecht - ele desloca o objeto de seu pensar.
     Muda o foco daqueles homens desabrigados, que por uma noite conseguem abrigo graças a uma alma
que se importa.
     Agora ele fala é de nós.
     Aqueles abrigados e que sentem-se seguros. Confortáveis o suficiente para poder lê-lo.
     Avisa-nos que estamos seguros.
     Mas apenas por esta noite.
     E que se não fizermos algo, a neve e o vento certamente virão.
     Para todos.

    

segunda-feira, 21 de março de 2011

Hollywood

     A cada manhã, para ganhar meu pão
     Vou ao mercado onde mentiras são compradas.
     Esperançoso
     Tomo lugar entre os vendedores.


                                              Bertolt Brecht


     Me sentia um pouco assim quando estava professor.
     Não. Me sentia muito assim.
     Nunca mais !     

Em Tempos Negros

     Não se dirá : Quando a nogueira balançou no vento
     Mas sim : Quando o pintor de paredes esmagou os trabalhadores.
     Não se dirá : Quando o menino fez deslizar a pedra lisa pela superfície da correnteza
     Mas sim : Quando prepararam as grandes guerras.
     Não se dirá : Quando a mulher foi para o quarto
     Mas sim : Quando os grandes poderes se uniram contra os trabalhadores.
     Mas não se dirá : Os tempos eram negros
     E sim : Por que os seus poetas silenciaram ?

                                                        
                                                             Bertolt Brecht


     Por vezes - demais - esquecemos que não são tempos de paz estes.
     Nunca são. Há sempre uma guerra em algum lugar.
     Há sempre alguém lutando para sobreviver lá fora.
     Ficamos tranquilos porque quem morreu foi um um japonês ininteligível ou um líbio fanático.
     Um bandido - suposto - ou um traficante - a menos.
     Mas ontem mesmo meu vizinho voltou para casa derrotado.
     E a senhora da frente mandou fortificar a casa.
     Eu mesmo passo na esquina armado de preconceitos.
     E já ví meninos de rua em formação de batalha.
     Ninguém é inocente.
     Estamos todos alistados quer queiramos ou não.
     Lí em algum lugar : Que homem é o homem que não torna o mundo melhor ?
     Faz-se necessário que lutemos o bom combate.
     Sempre.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Canção Escrava

     Se eu tivesse minha vontade
     Eu poria esta casa abaixo.
     Deus Poderoso, neste caso, se eu tivesse minha vontade
     Se eu tivesse minha vontade, criancinhas,
     Eu poria esta casa abaixo.


     Esta canção consta como epígrafe da primeira parte do livro de James Baldwin chamado: "e pelas praças não terá nome".
     E deveria estar inscrita nos túmulos de cada um dos líbios que já morreram e que morrerão, ainda, por essa ficção chamada "liberdade", sem a qual certamente somos menos.
    Pode parecer um contra-senso mas Kadafi NÃO cairá pelo mesmo motivo que Mubarak caiu: Os militares.     
      Nunca subestimem os milicos.
      Nunca subestimem os milicos.
      Nunca subestimem os milicos.
     Durante trinta anos eles apoiaram Mubarak. Por esse motivo ele deteve tanto tempo o poder. Quando perdeu seu apoio o povo conseguiu derrubá-lo. Com Kadafi se deu o contrário, pois este ainda tem suas forças armadas ao seu lado. Pobre povo que, no entanto, também é responsável pela sua situação.
      Aproveito-me da epígrafe de Baldwin e parafraseio o meu amigo Carlos Marx:
      - Escravos do mundo todo, uní-vos !
       Porque os há - os escravos - e eles são muitos e cada vez podem menos.
       E cada vez podem menos porque são cada vez mais ignorantes.
       Há a revolta porque a pele sente o que a consciência não entende.Então o povo sofre e acha injusto e se rebela. Mas não compreende. Profundamente não compreende sua própria condição e como chegou até ela.
       Francis Bacon já dizia: " O homem pode tanto quanto sabe".
      Mas tal qual aquele grego que, em pleno dia, procurava um homem honesto com uma vela acesa pelas ruas da cidade, onde encontrar quem queira realmente saber?

Borges : Un poco más...

                           LOS JUSTOS


     Un hombre que cultiva su jardim, como quería Voltaire.
     El que agradece que en la tierra haya música.
     El que descubre con placer una etimología.
     Dos empleados que en un café del Sur juegan un silencioso ajedrez.
     El ceramista que premedita un color y una forma.
     El tipógrafo que compone bien esta página, que talvez no le agrada.
     Una mujer y un hombre que leen los tercetos finales de cierto canto.
     El que acaricia a un animal dormido.
     El que justifica o quiere justificar un mal que le han  hecho.
     El que agradece que en la tierra haya Stevenson.
     El que prefiere que los otros tengan razón.
     Esas personas, que se ignoran, están salvando el mundo.


                                                    Do livro "La Cifra"


     Este poema é aqui colocado porque o Cezar disse a seus alunos para prestarem atenção no que é belo e triste; e porque o Jorge disse para a Sílvia que barco em que ele estava não afundava; e porque o Elcione está longe, este poema é também para ele. E para o Akin. Que não precisa de motivo.

Un poco de Borges

                                            
                       MIS LIBROS

     Mis libros (que no saben que yo existo)
     Son tan parte de mí como este rostro
     De sienes grises y de grises ojos
     Que vanamente busco em los cristales
     Y que recorro con la mano cóncava.
     No sin alguna lógica amargura
     Pienso que las palabras esenciales
     Que me expresan están en esas hojas
     Que no saben quién soy, no en las que he escrito.
     Mejor así. Las voces de los muertos
     Me dirán para siempre.

                                     Poema do livro "La Rosa Profunda".        


     Que me perdoe Borges, mas penso que meus livros sabem que eu existo.
     Acaso não sentem a materialidade da minha mão ao procurá-los nas estantes ?
     E a ânsia nervosa ao folheá-los como quem passeia pelo corpo da amada ?
     Não se perguntam - Quem é este ? - quando vou até eles em busca de respostas
   como se interrogasse o próprio Deus ?
     E não somos da mesma família, quando através deles tenho notícias de Voltaire, Goethe, Poe,Wilde,
Dostoievski, Drummond, Bandeira e tantos outros (que bom que a família é grande) meus irmãos, que não vejo faz muito tempo ?
     E não sentam eles à minha mesa durante as refeições e deitam na minha cama à noite me pondo pra dormir ?
     Tenho aprendido tanto com eles quanto com meus pais e chorado com eles as mesmas lágrimas que já ví minha irmã derramar.
     E de mim recebem eles carinhos e cuidados como os não recebe o filho que não tenho.
     Sí, mis libros saben que yo existo e quién soy.
     Sei também que Borges já sabia disso.  

         
    
    
             

quarta-feira, 9 de março de 2011

Um conto

     "O som do verão correndo"  - de Ray Bradbury.

Guy de Maupassant

Acredito que a mesma fala de Maupassant sobre o mistério serve para a inocência, a sensibilidade, o amor e outros tantos "maravilhosos" que faziam parte de nossas vidas quando vivíamos nos bosques, morrendo de medo da noite eterna. E quando ainda éramos todos poetas. Rogo para que não os deixemos morrer. 
Transcrevo a seguir excertos de uma crônica deste escritor sobre o qual - à beira de seu túmulo - disse Émile Zola: (...) Nós o compreendíamos porque ele era a clareza, a simplicidade, a medida e a força. Nós o amávamos porque ele tinha a bondade espirituosa, a sátira profunda que, quase por um milagre, não se tornava perversa, a alegria destemida que persiste mesmo sob as lágrimas. Ele pertencia à grande linhagem dos escritores franceses. Teve como predecessores Rabelais, Montaigne, Moliére, La Fontaine, os fortes e lúcidos, aqueles que são a razão e a luz de nossa literatura. 


     Então se diz: "Não há mais mistérios; todo inexplicado será explicável um dia; o sobrenatural baixa como um lago, que um canal consome; a ciência, a todo momento diminui os limites do maravilhoso".
     O maravilhoso! Outrora ele cobria a terra. Era com ele que ensinávamos as crianças; os homens se ajoelhavam diante dele; o ancião, à beira da tumba, arrepiava-se desvairado ante as concepções da ignorância humana.
     Mas os homens vieram, os filósofos a frente, depois os sábios, e adentraram com ousadia essa espessa e temida floresta de superstições; eles a cortaram sem cessar, abrindo caminhos para permitir que outros viessem; e depois se puseram a desbravá-la com fúria, produzindo o vazio, a planície, a luz ao redor deste bosque terrível.
     A cada dia eles reasseguram suas fileiras e ampliam as fronteiras da ciência; e esta fronteira da ciência é o limite de dois campos. Deste lado, o que era até ontem o não conhecido; do outro, o desconhecido que será conhecido amanhã. Esse resto de floresta é o único espaço deixado ainda para os poetas, para os sonhadores. Pois nós temos sempre uma invencível necessidade de sonhar; nossa antiga raça, acostumada a não compreender, a não indagar, a não saber, feita dos mistérios envolventes, recusa-se à verdade pura e simples. A explicação matemática de suas lendas seculares, de suas poéticas religiões, causa-lhes indignação, como sacrilégio! Ela se agarra a seus fetiches, insulta os lenhadores, apelando desesperadamente aos poetas.
     Apressem-se, oh poetas. vocês não tem mais do que um pequeno pedaço de floresta para nos conduzir. Este é de vocês ainda; mas que não se enganem, que não tentem entrar no espaço que acabamos de explorar.
     Os poetas respondem: "O maravilhoso é eterno. Que importa a ciência reveladora, já que temos a poesia criadora! Nós somos os inventores de idéias, inventores dos ídolos. Os artífices dos sonhos. 
Conduziremos sempre os homens pelo país do maravilhoso, povoado dos seres extraordinários que nossa imaginação cria". 
     Pois sim! Os homens não lhes seguirão mais. oh poetas.  
     (...) Acabou-se, acabou-se. As coisas não falam mais, não cantam mais, elas têm suas leis! A fonte murmura simplesmente a quantidade de água que ela despeja.    
     (...) O grande céu estrelado não nos espanta mais. Conhecemos as fases da vida dos astros, as figuras de seus movimentos, o tempo que necessitam para lançar sua luz.
     A noite não nos apavora mais, já não tem nem fantasmas nem espíritos para nós.


     E digo eu : É uma pena.
                    

Trilha

     Alguém por favor "ouça" a trilha sonora de "O Último Samurai " e sinta que a grandeza ainda não morreu.
    

sábado, 5 de março de 2011

Ray Bradbury

     Estou lendo "As Crônicas Marcianas" de Ray Bradbury...
     Precisamos ler mais Bradbury !
     Todos.